NOTÍCIAS » CANDIDATA SURDA É CONSTRANGIDA EM PROVA PARA TIRAR CNH NO TOCANTINS

Ela foi impedida de realizar um teste de direção por causa da deficiência. Após repercussão na internet, nova banca foi marcada e jovem aprovada.

A surdez de Mariana Ferreira Albuquerque, 23 anos, nunca foi impedimento para nada na vida dela. A jovem cursa Sistemas de Cooperativismo na Universidade Federal do Tocantins (UFT) e como qualquer estudante ela costuma sair com os amigos, se divertir e estudar. Mariana estava se preparando desde 2014 para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) em Araguaína, no norte do Tocantins, onde mora. Mas os problemas começaram logo que ela entrou com o processo.


O pai da jovem, o professor universitário Francisco Edviges, conta que para ser autorizada pelo Departamento Estadual de Trânsito do Tocantins (Detran-TO) a fazer as aulas, Mariana precisou ir à capital, Palmas, para passar pelos exames técnicos e psicológicos. Após realizar todo o trâmite legal, que segundo ele é burocrático mesmo para quem não possui nenhuma deficiência, a prova de direção dela foi marcada para o dia 13 de fevereiro.


O professor explica que a autoescola em que Mariana fez as aulas pediu que a avaliação dela fosse realizada antes das dos demais candidatos. Na manhã da prova, cerca de 200 pessoas fariam o exame. Mas de acordo com a família, a presidente da banca que avaliaria Mariana se recusou a realizar a prova da estudante. Pelas redes socais, a jovem contou como se sentiu. "Fiquei muito triste e chateada, mas não parei de lutar pelos meus direitos, protestei no Facebook e recebi apoio de muita gente", desabafou.



Primeiro, a funcionária teria alegado que faltavam documentos que comprovassem a surdez da estudante. Como a autoescola providenciou os documentos imediatamente, a presidente teria alegado então que não faria porque não teria sido avisada sobre o caso.


A avaliadora teria dito ao pai da estudante que precisaria de uma autorização de um outro funcionário que estaria em Palmas e que por isso não seria possível realizar a prova naquele dia. Se sentindo constrangida, Mariana começou a chorar. Com toda a confusão, o pai decidiu voltar para casa. Ele protocolou uma denúncia sobre o caso no Ministério Público Estadual (MPE) e compartilhou a indignação nas redes sociais.
"Minha filha passou por uma situação desnecessária e ela não precisa sequer de intérprete. O procedimento do Detran violou o estatuto do deficiente. Foi humilhante, constragedor e discriminatório", disse o pai.


Nova prova
Após o caso gerar repercussão nas redes sociais, o Detran remarcou a prova e criou uma banca específica para Mariana. Na última quinta-feira (19) a jovem foi aprovada no teste de direção. Mesmo assim, o pai da estudante afirma que vai seguir com o processo no MPE. "Essa é uma situação que não pode mais acontecer com ninguém", diz ele. Por sua vez, Mariana comemorou o resultado do novo exame. "Estou muito feliz", conta.
Nota da Redação: O Detran informou que o problema aconteceu porque não foi avisado pelo Centro de Formação de Condutores ou pelo pai de Mariana da condição especial dela. O órgão afirma que o procedimento da funcionária foi correto e que as providências legais para atender a candidata foram tomadas. Ainda conforme o Detran, no Tocantins há apenas um profissional intérprete da Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) para atender aos candidatos surdos.


24/03/2015 15h05 - Atualizado em 24/03/2015 15h05


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Fotos (crédito): Reprodução/Facebook e Internauta/Arquivo Pessoal

26 mar 2015 - G1Voltar