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CNH com mais rigor

Celso Martins

REPÓRTER

O Departamento de Trânsito de Minas (Detran-MG) promete apertar a fiscalização aos Centros de Formação de Condutores (CFCs) para cobrar mais qualidade no treinamento dos candidatos à Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Uma nova norma para abertura e funcionamento destas escolas será divulgada pelo Detran ainda este ano. Também um código de ética será elaborado pelo Detran para orientar os proprietários dos CFCs. Minas Gerais tem 1.800 centros de formação, mas desde agosto do ano passado o Detran não autoriza a abertura de novas escolas. O órgão alega que a proibição é para garantir um controle dos já existentes.
No Estado, pelo menos 70% dos candidatos à habilitação são reprovados no primeiro exame de direção realizado pelo Detran. O índice de «bomba» é considerado alto e está entre os maiores do país, conforme o Sindicato dos Proprietários dos Centros de Formação de Condutores de Minas Gerais. «A ganância de alguns proprietários em ganhar dinheiro é um dos motivos do alto índice de reprovação», afirma o presidente do sindicato, Rodrigo Fabiano Silva. Dos 1.800 CFCs de Minas, 250 estão localizados em Belo Horizonte. Desde junho do ano passado, somente carros com duplo comando de freio podem ser usados nas provas de direção. Este tipo de veículo somente os centros de formação têm para as aulas de direção. O aluguel de um carro como este custa, em média, R$ 70.
«Muitos correm para marcar o exame logo, sem saber se o aluno está preparado, para ganhar com o aluguel do carro», denunciou a vice-presidente do sindicato, Rosa Maria de Magalhães. Rodrigo Fabiano também defende critérios mais rigorosos na abertura de novos centros e um controle maior pelo Detran dos que estão em funcionamento, garantindo um maior índice de aprovação.
Rodrigo Fabiano lembra que a resolução 74 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) de 1999, prevê que os CFCs têm que aprovar, pelo menos, 50% dos candidatos inscritos no exame de direção. Esse percentual para a prova de legislação deve ser de 70%. Em 2004, 64% dos candidatos que fizeram as provas foram aprovados e no ano passado esse índice caiu para 61%.
«Se a resolução fosse cumprida, o CFC poderia ser advertido na primeira vez, deixar de marcar o exame na segunda vez e na terceira ter a licença cassada», declarou Rodrigo Fabiano. O chefe do Divisão de Habilitação e Controle de Condutores do Detran, delegado Robson Lima Goes, confirma que nenhum Centro de Formação de Condutores foi punido no Estado por não conseguir na prova de direção a aprovação de 50%. Um dos motivos é o fato de a legislação permitir a marcação da primeira prova após o candidato realizar 15 aulas de 50 minutos de direção.
«Muitas vezes o candidato não está preparado, mas insiste em fazer a prova de direção só com as 15 aulas. O interessado em conseguir a habilitação deve ouvir o instrutor que o treina para saber se ele está apto». A dica é do especialista em legislação de trânsito, Altair de Oliveira Dias, que também é proprietário de um CFC. Ele afirma que consegue atingir o índice de 50% na prova de direção realizada por seus alunos.
Altair também defende uma fiscalização mais rigorosa por parte do Detran para melhorar o desempenho dos candidatos nos exames e, conseqüentemente, a qualidade do motoristas habilitados. Ele lembra que o decreto 65.832, de 1997, do Detran, também prevê até a cassação do registro do Centro de Formação de Condutores quando ele não consegue o índice mínimo de 50%.

Nervosismo e despreparo são os grandes vilões nos exames

Para conseguir tirar uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH) o candidato gasta entre R$ 1.000 e R$ 1.300, incluindo as taxas pagas ao Detran-MG. Os Centros de Formação de Condutores do Estado cobram de acordo com uma tabela do órgão, mas o valor pode variar 10% para mais ou para menos. A atendente de caixa Sandréia Teixeira Dias, 23 anos, reprovada duas vezes neste ano na prova de direção, gastou R$ 1.100. Nas duas tentativas, a esperança de conseguir a habilitação não durou nem dez minutos.
«São muitos carros saindo a toda hora. Os examinadores do Detran não passam tranqüilidade para os candidatos. Eles ficam comentando os erros de quem foi reprovado», declarou. Sandréia Teixeira admite que o nervosismo contribuiu para sua reprovação. Em maio, quando tentou tirar a CNH pela primeira vez, ela foi dar marcha-a-ré no carro, mas ele ficou atravessado na rua.
«Na segunda tentativa, em junho, eu estava bem preparada. O meu erro aconteceu numa rotatória, quando eu entrei pela esquerda, motivo da minha reprovação. O examinador disse que era para eu entrar pela esquerda. Na realidade, ele queria que eu continuasse na pista da esquerda», declarou. Ela terá que fazer um novo exame médico, repetir o psicotécnico e a prova de legislação. Desde o final de julho, todos os exames passaram a ter validade de apenas um ano. Antes, eles venciam com cinco anos.
O contador Marcelo de Souza Leão, 35 anos, de Divinópolis, Região Centro-Oeste do Estado, disse que foi reprovado três vezes num período de três anos, mas não conseguiu saber ao certo o motivo. «O instrutor me disse que eu estava preparado, mas na hora fico nervoso, começo a suar», explicou. Como o exame médico está vencido, assim como o de Sandréia Teixeira, Marcelo de Souza também terá que gastar R$ 1.000 para tentar tudo de novo. De acordo com o Detran-MG, os examinadores são orientados a dar tranqüilidade aos candidatos e, em nenhum caso, podem induzir ao erro. Essa informação é confirmada pelo especialista em legislação de trânsito Altair de Oliveira Dias. Ele afirma que o nervosismo e a falta de controle do carro são as causas do alto índice de reprovação. «O candidato só é reprovado de cara se cometer uma falta grave, como fazer uma conversão proibida», disse.
Minas Gerais tem cerca de quatro milhões de motoristas habilitados. Só em Belo Horizonte 2.500 candidatos, por semana, fazem a prova de direção. O índice de reprovação de 70% é referente apenas à primeira tentativa. Considerando a segunda ou terceira prova de direção, o índice geral de reprovação é de 58%.


CANDIDATO BEM PREPARADO
Dicas para quem pretende CNH

- Marcar o exame de rua somente após ter certeza de que tem condições de dirigir, sem provocar acidentes

- O candidato deverá ter passado por, pelo menos, 20 aulas de 50 minutos

- Dormir bem na noite anterior ao exame e não tomar nenhum tipo de tranqüilizante. O medicamento pode prejudicar a concentração do candidato

- Pedir ao instrutor para dirigir o mesmo carro que será usado no exame de direção

- Caso o carro «morra», o candidato não deve se importar. Isso não é considerado falta, já que o veículo pode apresentar problema mecânico

DADOS

- Número de habilitados no Estado: 4,2 milhões

Ano Inscritos na prova de legislação Aprovados Reprovados
2004 352.191 223.901 (64%) 128.290 (36%)
2005 388.985 236.126 (61%) 152.859 (39%)

Ano Inscritos no exame de direção Aprovados Reprovados
2004 648.196 273.362 (42%) 374.834 (58%)
2005 740.764 309.695 (42%) 431.069 (58%)

Fontes: Detran/MG e Sindicato dos Proprietários dos Centros de Formação de Condutores (CFCs)

12 set 2006 - Jornal Hoje em Dia - Minas - 11/09/06Voltar