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Lei Seca
Cresce número de mortes em BH
No primeiro ano da legislação, pesquisa mostra a capital mineira como uma das cidades que deram mau exemplo, com aumento de 5,14% de vítimas de motoristas embriagados
Pedro Rocha Franco
Emmanuel Pinheiro/EM/D.A Press
Lázaro Sampaio se recupera dos traumas causados pelo violento acidente, que deixou profundas sequelas e interrompeu sonhos

Nos últimos 60 dias, a atriz de teatro Josiane Ilda de Paiva Campos, de 26 anos, ficou internada em coma. Por pelo menos um ano, o vendedor Wenner Ali Silva Gonçalves, de 24, deve se locomover em cadeira de rodas. O empresário André Eduardo Magalhães de Oliveira, de 26, sofreu acidente vascular cerebral. Além deles, Viviane Rosa Campos Viana, de 30, e Lázaro Sampaio Henriques, de 29, se recuperam dos traumas de um acidente, em 17 de abril, na Savassi, na Região Centro-Sul de BH. Eles estavam em um Mercedes-Benz Classe A que foi atingido violentamente pelo Captiva dirigido por um francês com sintomas de embriaguez – o bafômetro indicou 0,35 miligramas de álcool por litro de ar expelido (o mínimo tolerável é 0,1 miligrama). Exemplos assim como pessoas que dirigem veículos em Belo Horizonte ignoram o texto da Lei Seca e aproveitam as falhas na fiscalização.

Daqui a dois dias completa-se um ano da entrada em vigor da Lei Seca e o Ministério da Saúde comemora a redução de 14,43% no número de mortes no país. O resultado, no entanto, mostra comportamentos opostos nas grandes cidades em 2008, nos seis primeiros meses antes da lei e nos seis meses depois. De um lado estão 12 capitais que comemoram a diminuição, com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro, que apresentaram quedas superiores a 40% e estão no topo do ranking . Na contramão nacional, moradores de outras 14 capitais, incluindo Belo Horizonte, dão exemplo negativo e seguem por combinar álcool e direção sem pensar nas consequências.

Ao comparar apenas as capitais do Sudeste, com características mais semelhantes à de Belo Horizonete, a diferença é ainda mais assustadora. A média indica queda de 36,26% na região. Segundo a coordenadora da área de doenças não transmissíveis do Ministério da Saúde, Deborah Malta, o balanço parcial do primeiro ano da lei é positivo, mas é preciso manter o índice daqui para a frente com fiscalização e intensificação de campanhas educativas. “BH é uma surpresa para o ministério. O esperado era que o padrão nacional fosse seguido, como ocorreu com a implantação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), principalmente na Região Sudeste, onde a fiscalização tende a ser mais atuante”, afirma.

Falta de fiscalização e de punição é apontado como fator que incentiva a embriaguez ao volante. No caso do acidente envolvendo os cinco jovens, apesar da prisão em flagrante e da confirmação da ingestão de álcool, a única punição ao responsável pela tragédia foi pagar fiança de R$ 6 mil. Enquanto isso, amigos e parentes sofrem com o drama das vítimas. Lázaro conta que se lembra apenas do momento em que entrou no carro e de acordar numa cama de hospital no dia seguinte. “O motorista conseguiu habeas corpus para liberar o passaporte e, agora, fica livre para entrar e sair do país quando quiser e escapar de uma punição severa”, reclama Lázaro, que teve duas costelas quebradas, rompeu os ligamentos do joelho e teve coágulo na cabeça.
18 jun 2009 - ESTADO DE MINASVoltar