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Ônibus trafegam a 6 km/h durante o horário de pico, no Hipercentro de BH, e carros não ultrapassam os 25 km/h nos principais corredores viários
Fábio Fabrini
Marcos Vieira/EM
Avenida Uruguai, no Bairro Sion, lidera o ranking das vias mais lentas da capital, com média de 17 km/h no pico da tarde

“O futuro anda rápido”, diz slogan da BHTrans, impresso nas laterais dos ônibus. Mas, por enquanto, não passa pelos principais corredores da capital. O retrato traçado pelo Programa de Estruturação Viária de Belo Horizonte (Viurbs), anunciado pela prefeitura na terça-feira, é de uma cidade que anda a passos lentos. A velocidade média nas vias chega a 17 km/h no horário de pico, menos da metade de um cavalo a galope.

O ranking dos 10 corredores mais lentos faz parte dos estudos técnicos usados na elaboração do Viurbs, que elencou as obras mais importantes para desafogar o trânsito. Neles, a velocidade não supera os 24 km/h, com média geral de 21,3 km/h. Os técnicos percorreram 340 quilômetros de ruas e avenidas, munidos de rastreadores GPS (sistema de posicionamento global via satélite) e cronômetros. Para evitar erros, voltaram pelo menos cinco vezes a cada local, calculando o tempo de deslocamento.

A campeã da lentidão é a Avenida Uruguai, na Região Centro-Sul, que no pico da tarde registra média de 17 km/h (veja quadro). Mas a lista também contém vias fora da área mais conturbada da cidade, como a Rua Conselheiro Lafaiete (regiões Leste e Nordeste), a segunda mais problemática (19 km/h), seguida das ruas Espírito Santo (20) e Bahia (21).

RANKING DA LENTIDÃO
Via SentidoHorário de PicoVelocidade
1º - Uruguai Bairro/CentroTarde17 km/h
2º - Conselheiro LafaieteAmbosTarde19 km/h
3º - Espírito SantoBairro/CentroTarde20 km/h
4º - BahiaCentro/BairroTarde21 km/h
5º - IvaíBairro/CentroManhã21 km/h
6º - JacuíBairro/CentroManhã21 km/h
7º - Prudente de MoraisBairro/CentroManhã22 km/h
8º - AlagoasBairro/CentroManhã24 km/h
9º - Conceição do ParáCentro/BairroTarde24 km/h
10º - Gustavo da SilveiraCentro/BairroTarde24 km/h


A consultora técnica da Secretaria Municipal de Políticas Urbanas, Maria Fernandes Caldas, explica que os cálculos indicam as médias, mas, dependendo do trecho, do horário e do tipo de transporte, a situação pode ser bem pior. Na Rua da Bahia, entre a Escola de Engenharia da UFMG e a Avenida Afonso Pena, o tráfego chega a fluir a 9 km/h em alguns períodos. No hipercentro, os ônibus andam a 6 km/h durante o rush. “Caminhando, um ser humano vai a 5 km/h”, compara a técnica. A saturação só tende a piorar, já que a frota cresce em ritmo acelerado – diariamente, 500 veículos são emplacados pelo Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) na capital.

A consultora diz que a abertura de corredores, prevista no Viurbs, vai melhorar a situação a médio prazo. É o caso das obras no Complexo da Lagoinha, em andamento, que vão ligar as avenidas Pedro II, Cristiano Machado e Antônio Carlos, evitando que o motorista passe pelo Centro. “Isso vai aliviar bastante a situação nessa área, que recebe, diariamente, metade dos veículos que trafegam do Sul para o Norte da cidade e vice-versa. Boa parte está apenas de passagem, por falta de opção”, comenta.

As obras, segundo ela, deverão ser combinadas com medidas para restringir o tráfego de carros e privilegiar os ônibus. O planejamento do transporte, a partir deste ano, prevê a construção de corredores exclusivos em avenidas como Augusto de Lima, Amazonas, Santos Dumont e João Pinheiro, o que significa que o espaço para os veículos de passeio será reduzido. Gradativamente, o estacionamento público deve acabar, com o objetivo de aumentar a fluidez, principalmente para os coletivos. “Queremos criar alternativas para as pessoas irem para regiões conturbadas com mais facilidade, antes de adotar medidas radicais para restringir o automóvel”, afirma, referindo-se ao pedágio e ao rodízio.
24 abr 2008 - Estado de MinasVoltar