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Direção perigosa
Paulo Henrique Lobato


Renato Weil/EM

Teste prático de direção feito no Bairro Alípio de Melo. Índice de reprovação comprova falhas no aprendizado

Seis em cada 10 pessoas são reprovadas no exame de direção do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG). Nos últimos três anos, 2.239.470 alunos dos centros de formação de condutores (CFCs) tentaram obter a carteira nacional de habilitação (CNH) no estado, mas apenas 42,2% (944.046) conseguiram ser aprovados. Levantamento do órgão mostra que 52,2% foram reprovados pelos examinadores em 2005, 58,4% em 2006 e 56,8% em 2007. Os percentuais, embora tenham apresentado uma ligeira queda, continuam altos e ficam ofuscados quando comparados com o balanço de processos abertos pela Polícia Civil para a suspensão de quem tem o documento e cometeu infrações que somam pelo menos 21 pontos no prontuário.

O número de processos cresceu 140% no mesmo período: passou de 1.421, em 2005, para 3.411 em 2007. Os principais motivos que levam motoristas a correrem o risco de perder a habilitação são excesso de velocidade, embriaguez e manobras perigosas por diversão ou exibicionismo. Os dois tipos de estatísticas – índice de reprovação e quantidade de processos – reforçam o que muita gente já sabe: há auto-escolas que marcam o teste de alunos despreparados, várias pessoas aprovadas no exame não seguem as leis de trânsito e o processo de formação dos condutores precisa de urgentes mudanças.

“Há muita falta de educação no trânsito. A preparação dos CFCs está, de um modo geral, ruim. Os alunos fazem as 30 horas/aulas necessárias, mas a maioria não está preparada para o teste. E uma grande parte dos aprovados comete abusos no trânsito. O aumento na quantidade de processos deixa isso claro”, avalia o delegado Ânderson França, Chefe da Divisão de Habilitação do Detran. Ele adianta que o órgão irá ministrar um curso de capacitação para os instrutores das auto-escolas que aprovarem poucos condutores. “A previsão é de que isso ocorra em abril”, acrescenta o policial.

PREPARAÇÃO RUIM

O presidente do Sindicato dos Proprietários de Centro de Formação de Condutores do Estado de Minas Gerais (Siprocfc-MG), Rodrigo Fabiano da Silva, defende mudanças nas regras de preparação dos futuros motoristas. “Houve avanços nos últimos anos, como a obrigatoriedade do exame do sono, mas são mudanças tímidas. Um dos problemas é a formação dos profissionais: instrutores, diretores de empresas e examinadores. Para se ter uma idéia, não há nenhum curso de graduação de trânsito. Há uma carência pedagógica nessa área. Quem tem o ensino fundamental, por exemplo, pode fazer um curso de três semanas e ser instrutor de direção. Se tiver o ensino médio, de direção e legislação. Estamos lidando com vida, o bem mais valioso, e, por isso, é preciso, com urgência, mudar todo o sistema de avaliação”.

Já o gerente de Educação para o Trânsito da BHTrans e membro da Câmara de Educação pelo Trânsito e Cidadania do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Eduardo Lucas, avalia que a melhor solução para a redução das duas estatísticas é a mudança na formação dos motoristas. “O processo de preparação de condutores no Brasil não é sério. Se uma pessoa procurar o Sesi para um curso de maquiagem, esse irá durar cerca de seis meses. Se for para a cozinha industrial, em torno de um ano. Porém, quem se prepara para fazer o teste da CNH tem apenas 30 horas de aulas de legislação. É muito pouco e, mesmo assim, a gente sabe que há candidatos que são amigos de donos de CFCs e não cumprem toda a carga”, critica.
25 mar 2008 - ESTADO DE MINASVoltar