NOTÍCIAS » EDUCAÇÃO URBANA

A cada multa, 676 impunes
Enquanto um agente registra uma infração de trânsito na capital, quase 700 abusos escapam à fiscalização, exemplo de pouca infra-estrutura da BHTrans e de desrespeito dos motoristas
Fábio Fabrini
Jackson Romanelli/EM/D.A Press - 15/1/08
Conversão ilegal e avanço do sinal vermelho estão na lista de irregularidades cometidas
Nos primeiros 100 dias deste ano, os motoristas de Belo Horizonte levaram 168,1 mil multas. Se você acha exagero, saiba que o rigor poderia ser muito maior. Pesquisa da BHTrans, empresa que gerencia o trânsito na capital, mostra que, em média, apenas 0,14% dos abusos cometidos nas ruas da cidade são punidos. A cada flagrante registrado pela empresa, outros 676 escapam aos fiscais e radares. Uma estatística que carrega duas verdades: a estrutura de fiscalização, não raro chamada de indústria das multas, é apenas uma fabriqueta, incapaz de fazer frente a todo o desrespeito às leis de trânsito; e cabe ao cidadão, nem sempre ao poder público, melhorar as condições de circulação e segurança nas vias.

Para chegar aos dados, técnicos da BHTrans escolheram pontos com altos índices de acidente nas nove regiões de BH, inclusive a área central, e foram a campo contar as infrações cometidas. Em seguida, verificaram quanto as multas aplicadas nesses locais representavam no total de transgressões. Para constatar o excesso de velocidade, foram instalados equipamentos de registro 500 metros adiante e depois dos radares. A conclusão é preocupante: os comportamentos que mais comprometem a vida são também os mais impunes.

A relação é de um condutor penalizado para 3,8 mil que avançam sobre a faixa de pedestres, ameaçando o cidadão, e 384 que excedem a velocidade. A cada veículo multado por furar o sinal, outros 2.873 escapam. A situação é bem pior que a de cidades de porte semelhante, como Salvador, com uma autuação para 1.950 infrações desse tipo. Mas a capital mineira está bem longe do patamar de São Paulo. Na maior e mais caótica metrópole do país, uma pessoa paga o pato, enquanto 6.850 ignoram, sem conseqüências, a luz vermelha.

Os técnicos também mediram o desrespeito ao estacionamento rotativo: 138 veículos param sem a folhinha do faixa azul e um é visitado pelos agentes de trânsito. A eficiência da fiscalização só é maior com quem dirige com fones ou celular ao ouvido. A média é de um castigado para 28 “sortudos”. Mas o resultado pode ter sido influenciado por campanha educativa feita à época do levantamento dos dados, que alertou para os riscos desse tipo de atitude.

O gerente de Coordenação de Operação da BHTrans, João Carvalho, reconhece que o número de fiscais é pequeno na cidade. São 300, divididos em três turnos, para dar conta de uma população de 868,7 mil habilitados. É como se um “chumbinho” tivesse que tutelar quase 3 mil motoristas. A Prefeitura de Belo Horizonte prepara um pacote de medidas para aumentar o controle sobre as infrações. Ainda este ano, treinará 500 guardas municipais para a função. A quantidade de radares vai passar de 37 para 75. Haverá, ainda, detectores de avanço de sinal e faixas exclusivas. E o presidente da empresa, Ricardo Mendanha, avisa: as câmeras do Controle Inteligente de Tráfego (CIT) serão, em breve, usadas para autuar a distância.
02 jun 2008 - Estado de MinasVoltar