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Guerra diária no trânsito

As amigas Luciana Almeida, de 35 anos, e Lidiana Pereira, de 21, sentem-se preparadas para a prova de rua e consideram positiva a decisão do Detran de avaliar as escolas
Especialistas em engenharia e segurança no trânsito e no transporte aprovam a portaria do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran) de exigir dos centros de formação de condutores (CFCs) de Belo Horizonte mais qualidade nos ensinos teórico e prático dos aspirantes a motoristas, mas fazem algumas observações importantes.
O consultor Frederico Rodrigues acredita que a medida vai melhorar o comportamento do motorista da capital. Por outro lado, receia que as auto-escolas usem os percentuais para aumentar a margem de lucro, justificando que a mudança refletirá na necessidade de as empresas ampliarem os pacotes de horas/aulas oferecidos aos aprendizes.
“O objetivo da portaria é muito bom: os alunos devem ser preparados para dirigir pelo resto da vida e não somente para passar nos testes. Temos que analisar, contudo, se os procedimentos de avaliação do Detran estão coerentes com o que será exigido das auto-escolas. Além disso, também temos que ficar de olho se os CFCs não usarão os índices para aumentar os pacotes das aulas. Às vezes, o aluno pode estar apto atirar carteira e a empresa o força a pagar mais horas de ensino”, reforça o especialista, que é doutorando em tráfego e transporte.
O engenheiro Osias Batista, coordenador de pós-graduação em transporte e trânsito da Universidade Fumec, avalia que a portaria reduzirá bastante o mau comportamento de muitos condutores que transformam as ruas e avenidas da capital numa espécie de guerra não-declarada. Para ele, o comportamento inadequados e deve à falta de formação adequada nos CFCs.
“Os índices obriga mas auto-escolas a melhorarem o padrão de ensino. O candidato terá que se aprimorar e, provavelmente,haverá uma melhora no quadro de formação(dos condutores). Porém, há de ser avaliado se o nível colocado pelo Detran é o adequado. Durante os exames, o órgão poderia ‘apertar’ mais em relação ao hábito da falta de educação.”
Já a enfermeira responsável pela capacitação das 20 equipes do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) de Belo Horizonte, Daniele Santiago, lamenta que nem todos os condutores aprovados nos testes do Detran estejam realmente preparados para dirigir na capital. Ela diz que a quantidade de ocorrências de acidentes obriga as autoridades a tratarem o assunto como caso de saúde pública e faz uma triste constatação: “Nem todos os condutores habilitados têm aptidão para a direção”. Sua principal preocupação é com os motociclistas, pois uma simples queda pode matar ou deixar o motoqueiro ou o garupa com seqüelas irreversíveis.
“Sentimos um crescimento grande na quantidade de ocorrências envolvendo a frota, como a queda de motociclistas, principalmente depois das 18h; atropelamentos, sobretudo, no período da tarde; e batidas. O Samu aconselha o motorista a respeitar a legislação: não exceder o limite de velocidade, usar o cinto de segurança, não combinar álcool com direção e, caso esteja cansado, também evitar o volante. O condutor alcoolizado ou cansado tem o reflexo reduzido, o que pode ser fatal”, acrescenta.
O comerciante Alex Flávio Gomes da Silva, de 31 anos, garante que será um bom motorista. Ele foi aprovado no teste de legislação no primeiro exame e diz que está preparado para repetir o sucesso no teste prático, terça-feira, no entorno do Estádio Governador Magalhães Pinto (Mineirão). “A pessoa que tentar a carteira de habilitação tem de se preparar bem”. Seu instrutor, Geraldo Henrique Araújo, de 43, está confiante no aluno e defende a portaria: “Os índices estimulam os bons profissionais”.
As amigas Luciana Aparecida Almeida, de 35, e Lidiana Alves Pereira, de 21, também já passaram pelo teste teórico e se preparam para o exame de rua. “A auto-escola é importante, pois retira o vício de quem já teve contato com o veículo antes de se matricular em algum CFC”, afirma a primeira. Para a outra, a medida do Detran é uma forma de deixar o trânsito mais seguro, pois fecha o cerco aos maus condutores e às auto-escolas que não ensinam seus aprendizes corretamente.

BH ocupa 6ª posição em ranking
As estatísticas mostram que as autoridades de trânsito – mas principalmente os motoristas – devem adotar medidas urgentes para reverter as tragédias nas ruas e avenidas de Belo Horizonte. A violência envolvendo carros, motos, ônibus, caminhões e outros modelos matou 166 pessoas na capital, em 2006, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). O trágico balanço (veja arte) deixou a cidade na sexta posição do ranking de vítimas fatais nas capitais do país, liderado por São Paulo (1.448 vidas perdidas). A mesma planilha mostra que, se o número de vítimas for relacionado aos grupo de 100 mil moradores, BH responde por uma taxa de 6,9 mortos. Neste caso, passa a ocupar a 15ª colocação e o topo da tabela fica com a capital de Rondônia, Porto Velho, com nota 35,7.
As mortes no trânsito de BH reduziram se comparadas às 297 pessoas que perderam a vida em 2000. Porém, a quantidade de famílias que continuam chorando a saudade de entes queridos ainda é grande. A do motoboy Lucas Duarte, de 21 anos e há quase dois na profissão, quase fez parte dessa estatística. Ele sofreu um acidente na Avenida dos Andradas, no Bairro Pompéia, na Região Leste da capital, em outubro de 2006, quando quebrou o tornozelo. “Estava ao lado de um carro, cujo motorista não me viu e entrou, rapidamente e sem dar seta, numa via à direita. Fui atingido em cheio.
Ele foi imprudente e poderia ter evitado o acidente. Precisei passar por uma cirurgia. Trabalho nesta profissão há um ano e meio, mas, se Deus quiser, vou abandoná-la em janeiro. Pretendo conseguir outro emprego, já que este é muito perigoso”, disse. Os dados do Denatran mostram que os homens (crianças, adolescentes ou adultos) são as principais vítimas dos desastres registrados nas vias da capital. Das 166 pessoas que perderam a vida no ano passado, 126 eram do sexo masculino, 38 do feminino e duas não tiveram a informação detalhada pelo Denatran. Em 2000, a maior parte (238) das 297 vítimas também era masculina. Trinta e nove eram do sexo oposto e 20 não foram informadas pelo órgão.
Estado de Minas 04/11/2007
06 nov 2007 - Estado de minasVoltar