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Imprudência desafia a lógica- Menos acidentes; mais violência
Polícia Rodoviária Federal mostra que o número de batidas nas estradas de Minas Gerais vem caindo, mas as mortes devem aumentar até o fim do ano. Choques estão mais graves



Paulo Henrique Lobato e Daniel Antunes
Marcos Michelin/EM -14/9/06

Gravidade das batidas é a grande preocupação dos patrulheiros e a BR-381 está entre as rodovias que têm, pelo grande fluxo de veículos, índice de alto risco

Mil e dezesseis pessoas já morreram este ano nas rodovias federais que cortam Minas Gerais. Outras 10.290 ficaram feridas. O quadro preocupa os especialistas, pois o número de acidentes vem caindo no estado, revelando que a violência das batidas, saídas de pista ou atropelamentos está aumentando, principalmente depois que vários trechos da malha foram duplicados ou recuperados. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou 16.122 sinistros, entre 1º de janeiro e 5 de dezembro de 2005, contra 15.985 no mesmo período deste ano (somente hoje serão divulgados os números do fim de semana). “Os acidentes caíram, mas estão mais graves”, alerta o inspetor Aristides Amaral Júnior, da PRF.

O policial acredita que o número de mortes em 2006 irá superar os 1.084 óbitos de 2005. “Infelizmente, isso deve ocorrer, pois ainda temos pela frente os feriados de Natal e ano-novo”. A imprudência, mais uma vez, é a grande vilã. Estatísticas da PRF sobre as condições do tempo e da pista mostram que muitos motoristas continuam desrespeitando a sinalização e arriscando ultrapassagens em locais proibidos. A maior parte dos acidentes registrados ano passado ocorreu durante o dia (55,7%), com o tempo bom (63,9%), em pista reta (58,7%) e há menos de uma hora de o condutor ter assumido o volante (40,5%). (veja quadro)

Os percentuais reservam a Minas Gerais, todos os anos, a liderança no ranking de acidentes com vítimas. Depois das 1.084 mortes em Minas, o maior número de óbitos ocorreu em Santa Catarina. Foram 543, quase a metade das ocorrências registradas pelos patrulheiros mineiros em 2005. Depois vieram Bahia (493), Rio de Janeiro (490), São Paulo (423), Paraná (364) e Rio Grande do Sul (323). Por outro lado, o Amapá, com sete vítimas, Amazonas, com 11, e Roraima, com 25, tiveram os menores saldos do ano passado.

Uma das justificativas para que Minas lidere a triste estatística é o tamanho de sua malha viária federal, a maior do Brasil. São cerca de 17,5 mil quilômetros. Outra é o fato de o estado ser importante corredor de transição, ligando a região Norte à Sul e a Leste à Oeste. Um dos acidentes mais graves do país em 2006 ocorreu em Minas, com o ônibus de Mossoró (RN), placa GNP 7625, que ia para São Paulo. Em 21 de julho, uma colisão entre o veículo e a carreta GXH-7740 provocou a morte de 14 pessoas no km 228 da BR-381, próximo a Santana do Paraíso, no Vale do Rio Doce.

A BR-381 é uma das principais rodovias do país. O fluxo de veículos é grande, resultando num alto índice de risco, da ordem de 8,34, o maior entre as estradas que cortam Minas Gerais. Esse índice oscila de O a 10 e é medido pela PRF, com base no número de acidentes e a extensão da rodovia em quilômetros. Outra estrada movimentada e perigosa é a BR-116, que começa no Rio Grande do Sul e vai até o Ceará. Nela, o índice é de 5,21.

DRAMA E SAUDADE A BR-116 traz tristes recordações ao advogado Marcelo Oliveira Cândido, de 55 anos, que perdeu o filho, Leonardo Oliveira, de 22, e a nora, Patrícia Procópio, de 19, num acidente próximo a Teófilo Otoni, no Vale do Rio Doce. O advogado seguia com a família para Mucuri, na Bahia, com a mulher e duas netas. Em um outro veículo estavam o filho e a nora. O carro dos jovens foi atingido por uma carreta, que trafegava em alta velocidade, em sentindo contrário. Depois do acidente, o trauma: Marcelo nunca mais teve coragem de usar a rodovia, algo que era comum todos os anos, quando a família viajava para a casa de praia no litoral baiano.

“A 116 é assustadora. Conheço pessoas que perderam parentes e amigos nela. O problema maior é a imprudência dos motoristas. Muitos não respeitam o limite de velocidade”, lamenta o advogado, que vendeu a casa na praia por não conseguir ir ao local sem o filho e a nora. Em outra estrada movimentada, a BR-040, que liga o Rio de Janeiro a Brasília, o índice de risco é de 5,28.

Mais sorte teve a estudante Rosana Tolentino, 25 anos. Natural de Pescador, no Vale do Rio Doce, ela conta que o irmão seguia em uma van clandestina para Belo Horizonte. Perto de Frei Inocêncio, quando o motorista perdeu a direção e caiu em uma ribanceira, matando uma pessoa e deixando outras 10 feridas. “Meu irmão teve um corte no rosto, levou alguns pontos, mas nada sofreu. Ele explicou que pouco antes do acidente, o motorista, em alta velocidade, havia perdido o controle do carro por duas vezes, numa atingindo a contramão da pista e na outra invadindo o acostamento”.

No ano passado, o empresário valadarense José Batista Pontes morreu em um acidente na BR-116. Batista, como era conhecido, perdeu o controle da caminhonete que dirigia e também caiu em uma ribanceira, numa região conhecida como Serra do Onça. No momento do acidente chovia bastante, o que tornou a pista escorregadia.

12 dez 2006 - Paulo Hentique Lobato e Daniel AntunesVoltar