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BR-381 - A RODOVIA DA MORTE
Irresponsabilidade e morte
Peritos e socorristas apontam irregularidades no caminhão que destruiu van e matou cinco
Thiago Herdy
Euler Junior/EM/D.A Press
Diante do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, parentes de vítimas se desesperam em busca de notícias de mais um desastre na 381


A maior parte das vítimas do acidente na BR-381, que tirou a vida de cinco pessoas que seguiam para Caeté, era levada de volta para casa pelo motorista da van Sprinter, José Rodrigues Pereira, de 52 anos, depois de assistir a aulas nos câmpus do Centro Universitário Newton Paiva e Uni-BH. Motorista há pelo menos 30 anos, ele oferecia o serviço a estudantes da cidade da Grande BH havia mais de uma década. Acostumado a fazer a curva do km 435, não imaginava que no fim da noite de quarta-feira encontraria pela frente um caminhão sem controle, que chegava ao fim da descida da Serra de Caeté praticamente sem freio. Testemunhas contam que o condutor do veículo de carga, José Rodrigues Neto, de 27 anos, buzinou e piscou os faróis por quase um quilômetro antes de destruir a Sprinter. Pouco adiantou, pois ele não tinha condições de fazer a curva fechada à sua frente. Em alta velocidade, o caminhão capotou e atirou a van contra um barranco. O carro lotado de passageiros bateu, voltou e caiu em cima das rodas traseiras do caminhão.

"Sempre fiquei preocupado, não dormia enquanto minha filha não chegasse, porque é uma estrada assassina. O corpo dela vai ser velado no salão da igreja. Como vou conseguir entrar de novo naquele lugar, para ir à missa?"

Antônio Carlos Rodrigues, de 54 anos, pai de Fernanda Cristina de Melo Rodrigues, de 19, morta no acidente
Além do motorista da van, morreram na hora os estudantes Ranaly Perez de Castro Rosa, de 21 anos, Fernanda Cristina de Melo Rodrigues, de 19, Osvaldo de Pádua Santos Júnior, de 20, e Alberty Silva Syrio, de 23. Treze pessoas, entre elas o motorista do caminhão e um passageiro, foram socorridas por quase uma dezena de ambulâncias e levadas para as três principais unidades de atendimento de urgência da capital: Hospital Universitário Risoleta Neves, Hospital de Pronto-Socorro João XXIII e Hospital Municipal Odilon Behrens. Um dos feridos em estado mais preocupante é a filha do motorista da van, Ligia Aparecida Costa Pereira, de 29, que está em coma, devido a um traumatismo craniano gravíssimo. O responsável pela perícia da Polícia Civil no local do acidente informou que não será possível saber a velocidade em que estava o caminhão, porque o veículo viajava sem disco no tacógrafo, o que é ilegal.

Os socorristas que estiveram no local também observaram outras duas irregularidades no caminhão que provocou o acidente: os pneus da frente estavam carecas e as câmaras de freio, popularmente conhecidas como cuícas, estavam presas apenas por uma corda. Procurados pelo EM, representantes da Transportadora Soma Logística Ltda., responsável pelo transporte da carga, informaram que o caminhão acidentado não pertence à empresa. O motorista teria sido contratado para carregar 12 toneladas de chapas e perfis de aço em uma siderúrgica em Barão de Cocais, na Região Central de Minas, e entregá-lo sábado em endereços da capital paulista e de Mogi das Cruzes (SP) e Itaquacetuba (SP).

Por causa do acidente, a cabine do caminhão foi prensada no asfalto e transformou-se em uma massa de ferro retorcido. Bombeiros tiveram dificuldades para socorrer sobreviventes da van, completamente destruída. “Pelo estado em que ficaram os carros, não dava para explicar o que tinha acontecido. Há seis anos trabalho neste trecho e esse acidente foi um dos que mais me chocaram”, disse Eli Carlos Batista Aniceto, de 26 anos, que trabalha em uma empresa de guincho, um dos primeiros a chegar ao local do acidente.

Na madrugada de ontem, ao perceber que os alunos não chegavam em casa, em Caeté, parentes foram atrás dos passageiros e se depararam com o acidente. No local, um dos mais desesperados era Renato Costa, filho do motorista da van, que seguia logo atrás do pai, em outro veículo usado pela família para o transporte de universitários. “Até agora a ficha não caiu. Ele nunca havia batido”, disse o rapaz, já na manhã de ontem, na porta do HPS João XXIII.

FORA DE HORA

Mesmo em dia de muito movimento no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), os médicos mantiveram a paralisação de 24 horas, das 7h de ontem às 7h de hoje. Só casos de extrema urgência foram atendidos e a triagem foi feita em mesa improvisada na entrada por um grupo de médicos com um colete escrito “O HPS pede socorro”. Até às 14h, 100 pessoas deixaram de ser atendidas, um quarto da média diária. A Fhemig informou que já atendeu a parte das reivindicações dos médicos, como abono salarial de R$ 1,5 mil ou R$ 1 mil, dependendo do caso, e promete criar comissão salarial para melhorar as condições.
13 mar 2009 - ESTADO DE MINASVoltar