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Índice de reprovação no exame de direção em BH chega a 67%
Detran teria de punir autoescolas, mas alega que ninguém aprende só com 20 horas/aula
Paula Sarapu
Pedro Ferreira
A recepcionista Patrícia Pereira Magalhães de Godoy, de 25 anos, trabalha numa autoescola, tem 30
instrutores à sua disposição para as aulas de legislação e direção, mas não consegue tirar carteira de
motorista. Ela já fez o exame de direção quatro vezes, mas na hora da prova o nervosismo fala mais alto.
Como Patrícia, muitos belo-horizontinos sofrem com o rigor da avaliação. Dados do Departamento de
Trânsito de Minas Gerais (Detran/MG) mostram que o índice de reprovação chega a 67% em Belo Horizonte
e na região metropolitana. Em Minas, a média de reprovados é de 64%, muito superior ao Rio de Janeiro,
por exemplo, de 51%. Essa estatística faz com que o Detran/MG não consiga cumprir a lei federal que
determina que as autoescolas aprovem pelo menos 60% dos candidatos, sob risco de punição. No ano
passado, em BH e na região metropolitana, dos 422.827 exames de direção aplicados, em apenas 137.224
os motoristas garantiram a carteira.
“Para as provas teóricas, eles fazem isso. Mas se o Detran cobrar aprovação mínima no exame prático, vai
fechar todo mundo. Não tem como aprovar os alunos com apenas 20 horas/aula”, afirma o instrutor e
proprietário da autoescola Nova Sion, no Bairro Sion, Lúcio Neto. Ele admite que os alunos chegam muito
“crus” à prova prática e diz que com a carga horária determinada pelo Departamento Nacional de Trânsito
(Denatran), o instrutor só consegue ensinar ao motorista a andar em linha reta, dominando os pedais e
usando três marchas.
“Dirigir é uma questão motora e a prova é muito simples, mas a autoescola só consegue ensinar o básico. É
tudo meio automatizado”, avalia ele, que é mais radical. “Nem com 40 horas/aula, o que está sendo discutido
agora, o aluno tem condições de circular nesse trânsito, porque demora pelo menos três meses para entrar
no ritmo e sentir segurança. Deveria ser como nos EUA, onde o motorista, durante seis meses, só podeandar acompanhado de alguém habilitado há mais tempo, enquanto estiver em fase de adaptação.”
O chefe da Divisão de Habilitação do Detran-MG concorda. Segundo o delegado Anderson França, o órgão
teria que punir todos os centros de formação se seguisse a lei à risca. “Não é só em Minas, ninguém no
Brasil consegue, porque não se a aprende a dirigir com 20 horas/aula. Pesquisei sobre os índices em outros
estados e todos estão na faixa de 35% a 40% de aprovação. O Denatran é que precisa mudar a carga
horária”, pontua o delegado.
Para o advogado Tales Lucena, especialista em trânsito, os candidatos à carteira de motorista chegam
despreparados ao exame. “Não tenho dúvidas disso e as autoescolas também não têm muito o
compromisso de capacitá-lo”. O presidente do Sindicato dos Centros de Formação de Condutores de Minas,
Rodrigo Fabiano da Silva, concorda. “O principal (problema) é a carga horária, que deixa a desejar, e o rigor
do exame. É quase mágica aprovar alguém com 20 horas/aula ou até 15, dependendo do caso, mas há
problemas de deficiência no ensino por causa do apagão de mão de obra”, argumenta.
Segundo Rodrigo, não há oferta de profissionais porque a lei exige que o instrutor tenha carteira D (para
ônibus) e pelo menos um ano de experiência nessa categoria. “Por isso, se um profissional não responde
bem, não temos como trocá-lo”, justifica.
Lucena diz ainda que o rigor do exame de direção pode ter um viés econômico, por causa das taxas de
pagamento. Mas, segundo o delegado Anderson França, a receita entra no cofre único do estado. Para o
presidente do sindicato, é lenda dizer que a reprovação é interessante para as autoescolas. “Isso, na
verdade, queima o filme. O interessante é quando o aluno passa e vira um bom condutor, indicando outras
pessoas para a autoescola”.
Pouco tempo, muito nervosismo
A fim de tentar reduzir o número de candidato reprovados no exame no direção, o Departamento Nacional
de Trânsito (Denatran) está avaliando o pedido do Detran de vários estados para dobrar de 20 para 40
horas/aula o tempo de treinamento dos candidatos a motorista. O tempo curto é apontado como principal
causa da reprovação em todo o país.
21 fev 2013 - Paula Sarapu , Pedro FerreiraVoltar