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LEI SECA
Motorista larga o copo
Pesquisa do Ministério da Saúde mostra que um terço das pessoas mudou de atitude e, desde a entrada em vigor das restrições ao consumo de álcool, evita dirigir depois de beber
Bianca Melo
Fotos Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
A esteticista Nícia Soares acredita que a fiscalização diminuiu
Não foram poucos os acidentes envolvendo motoristas alcoolizados nos últimos dias, mas o Ministério da Saúde avalia que houve mudanças de comportamento desde a entrada em vigor da Lei Seca, em 20 de junho. Pesquisa feita em julho e agosto por telefone com adultos moradores de todas as capitais brasileiras apurou que 32% das pessoas deixaram de dirigir sob o efeito de bebida. “Claro que não chegamos ainda aos esperados 100%, mas a mudança de comportamento em um terço das pessoas é muito positiva”, diz a coordenadora da pesquisa, Deborah Carvalho Malta. Foram ouvidas 24 mil pessoas, mas projetados para a população total, ela estima que 48 mil motoristas nas 26 capitais e no Distrito Federal mudaram a postura no trânsito. No ano passado, outra pesquisa do governo federal levantou que 2,7% dos condutores das cidades-pólo do país, o equivalente a 150 mil pessoas, bebiam abusivamente e dirigiam embriagados.

Eles são parte de um percentual maior – 17,5% – que bebe, mas não dirige. É a atual turma do assessor parlamentar Adalberto Mazzinghy, de 48 anos. “Agora pego táxi. Falou-se tanto no assunto que veio uma conscientização.” Ele garante que a mudança não teve nada a ver com medo da fiscalização. “Eu bebo e me transformo em outra pessoa e é arriscado mesmo”, admite. Ele não acha barato o preço do táxi para quem está habituado a sair com freqüência. Uma saída da sua casa, na Região Leste, até o Bairro Sion, na Região Sul, custa pelo menos R$ 30, considerando a ida e a volta.

Beber perto de casa com uma lista extensa de bares próximos é privilégio de poucos. O aposentado João Emanuel Pinto Filho, de 60 anos, morador do Bairro Santa Tereza, tem esta vantagem, acrescida de tempo livre que possibilita a ele dividir com amigos horas de conversa com uma garrafa de cerveja ao lado. “Eu nunca fui parado por policial, mas respeito a lei. E outro dia até alugamos uma van para ir a uma festa na Pampulha“, conta.

Estudo de 2007 feito pelo Ministério da Saúde mostra justamente que os jovens, especialmente a faixa etária de 18 a 34 anos, concentram o maior percentual de pessoas que bebem muito em um espaço de tempo menor: 40% deles. O ministério planeja para 2009 uma pesquisa, em parceria com universidades federais, sobre a presença de álcool no sangue dos envolvidos em acidentes de trânsito no país. A última, feita em 2002, encontrou relação entre bebida e direção em 50% dos casos.

João Emanuel Filho prefere ficar nos bares perto de sua casa
FISCALIZAÇÃO
Entre os motoristas, é recorrente a percepção de mudanças na abordagem dos órgãos de fiscalização, mais presentes no início da fiscalização. A esteticista Nícia Soares, de 44 anos, lembra quando os bares estavam vazios, reclamando de prejuízos. “Era um alvoroço este assunto, mas os locais já estão cheios de novo.” Ela diz respeitar a lei, mas admite que, algumas vezes, bebe uma quantidade pequena. “Duas cervejas só não alteram o controle para dirigir”, afirma.

A pesquisadora do Ministério da Saúde reconhece que a fiscalização nem sempre é a mais adequada. “A lei é um grande avanço, mas se não andar articulada com a fiscalização e com muita divulgação, vai ficar difícil obter êxito.”

TRANSBEBUM

Logo que a Lei Seca foi publicada, a BHTrans iniciou discussões sobre medidas para auxiliar a população a se locomover sem o carro. Em uma delas, que ficou conhecida como Transbebum, seriam autorizadas novas rotas de táxis-lotação para atender a área com grande concentração de bares na capital. A proposta não saiu do papel. Conforme a assessoria da empresa, as discussões serão retomadas depois das eleições.
23 out 2008 - Estado de MinasVoltar