NOTÍCIAS » MÁFIA DAS CARTEIRAS. MP E POLÍCIA CIVIL INSTAURAM INQUÉRITO PARA INVESTIGAR ESQUEMA DE CORRUPÇÃO EM

Força-tarefa apura venda de CNH
Exames de direção são vendidos por R$ 1 mil; autoescola capta "compradores"
Nilson Botelho
Rosângela Valadares
Uma força-tarefa, formada pelo Ministério Público Estadual (MP) e pelo setor de inteligência da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, instaurou inquérito para investigar o esquema de venda de carteiras de motorista em Minas, com foco na cidade Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Conforme O TEMPO denunciou ontem, com exclusividade, exames de direção estão sendo comercializados em troca de uma propina de R$ 1.000. O golpe, que contaria com instrutores, examinadores e alunos corruptos é gerenciado de Betim por pelo menos uma autoescola, localizada no centro do município.

Inicialmente, o foco da investigação vai se concentrar para descobrir quem são os examinadores do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), que estariam recebendo propina para facilitar as aprovações nas provas práticas.

Para isso, serão intimados o suposto proprietário da autoescola e o instrutor da mesma firma. Para reportagem, a dupla confessou que fica com R$ 200 do dinheiro obtido no esquema. O restante, R$ 800, segundo eles, seria repartido entre os examinadores do Detran.

Em Betim, os exames acontecem duas vezes por mês e são aplicados por cerca de 50 examinadores do Detran, os mesmos que compõem a banca que percorre o Estado.

A partir do depoimento dos suspeitos, a força-tarefa do MP e da Polícia Civil pretende identificar os supostos examinadores que integram o esquema. Os crimes de corrupção ativa e passiva são puníveis até com oito anos de cadeia, segundo o Código Penal brasileiro.

Em Betim, quem vai conduzir o inquérito é o promotor criminal, Márcio José de Oliveira. Já na Polícia Civil, as investigações serão conduzidas pelo delegado geral da corporação, Francisco Carvalho Martins.

A investigação da força-tarefa vai concentrar ainda na tentativa de descobrir se outras autoescolas estariam fazendo parte do esquema de corrupção. Segundo relato de alunos e ex-alunos, outras empresas também estão intermediando a venda das carteiras.

Além de desmantelar o grupo criminoso, o setor de inteligência da Polícia Civil apura a tentativa de intimidação e ameaça contra um dos repórteres que produziu a matéria, após determinação do governador Aécio Neves e do secretário de Estado de Defesa Social, Maurício Campos Júnior. O jornalista recebeu ameaça por telefone enquanto apurava a reportagem.

Números
R$ 1.000 é o valor da carteira de motorista retirada ilegalmente na cidade de Betim
R$ 400 é o valor embolsado por cada um dos examinadores do Detran-MG envolvidos na fraude


Repercussão
Leitores e internautas fazem comentários e novas denúncias
Após a publicação, ontem, da reportagem exclusiva de O TEMPO, que denuncia negociação de carteiras de motorista em troca de propina em Betim, internautas e leitores reagiram com comentários e novas denúncias.

Pelo Portal O TEMPO Online, um leitor da Zona da Mata relatou que o esquema de Betim ocorre também no interior do Estado. Em Ponte Nova, segundo ele, há examinadores que adquiriram vários imóveis naquela cidade conquistados com uma "verba a mais garantida com a venda de carteira de motorista".

Uma internauta de Vespasiano comentou que a corrupção no esquema de carteiras de motorista ocorre também nas clínicas credenciadas pelo Detran para exames médicos. Segundo ela, alguns funcionários do órgão de trânsito e donos de autoescolas intimidam responsáveis pelas clínicas. Ela não revelou como funcionaria o referido esquema nas clínicas.

Denúncias referentes à negociação de carteiras de habilitação em cidades da região Leste do Estado e também em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, também chegaram ontem à redação. Em Betim, a reportagem ouviu vários depoimentos de pessoas que chegaram a pagar pela carteira. (Da Redação)
27 jan 2010 - SIPROVoltar