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Cidade corre risco de ficar sufocada com crescimento da frota, que deverá chegar a 1 milhão de carros no fim do ano
Fábio Fabrini
De 1999 a 2005, a frota da capital cresceu ao ritmo de 5% ao ano, um dos maiores entre as grandes metrópoles brasileiras. De 2005 para 2006, a evolução foi ainda maior (8%): o número de veículos passou de 862,9 mil para 931,2 mil. Nessa velocidade, até dezembro haverá nada menos que 1.005.789 de carros de passeios, motos, ônibus e caminhões nas ruas. O crescimento é estimulado pelas facilidades oferecidas pelas montadoras de veículos, e possibilitadas pela inflação baixa, melhoria do poder aquisitivo do brasileiro. Mas também é influenciado pelas deficiências crônicas do transporte público, que, em geral, é lento, desconfortável e superlotado. Os dados do Detran mostram que, terça-feira passada, a frota já era de 936,9 mil. As maiores evoluções ocorreram entre carros de passeio, motos e picapes, que já representam 90% da frota. Isso significa que, de cada três habitantes, pelo menos um escolhe um meio de transporte particular em seus deslocamentos, o que contribui ainda mais para a saturação de ruas e avenidas. A média de ocupação é de 1,5 pessoa por carro de passeio, quando a maioria tem capacidade para cinco. O engenheiro Frederico Rodrigues, especialista em transporte e trânsito, diz que o crescimento da frota é uma tendência mundial. De acordo com ele, enquanto a população da Terra dobrou desde a década de 1950, o número de veículos em circulação aumentou 10 vezes. “BH, assim como qualquer outra cidade no mundo, não suporta crescimento tão grande”, diz, acrescentando que algumas características tornam a situação mais grave na capital mineira. A cidade tem estrutura radial, sem ligações transversais entre as grandes avenidas, o que obriga boa parte dos veículos a passar pela área central, no deslocamento de uma região para outra. Diariamente, nada menos que a metade da frota roda na área limitada pela Avenida do Contorno. “Quarenta por cento do tráfego é de passagem, o que significa que os veículos só passam por ali porque os motoristas não têm outra opção”, afirma. O especialista diz que, caso várias medidas não sejam adotadas a curto, médio e longo prazos, a tendência é que BH se torne uma cidade inviável. Uma delas é a melhoria da qualidade do transporte público, que, devido à lentidão e à falta de conforto, não atrai a classe média. “A construção das linhas 2 e 3 do metrô, ainda no papel, ajudaria a aliviar substancialmente o tráfego, pois elas vão cortar regiões de grande circulação”, sugere. Outra idéia, segundo ele, seria a criação de um serviço de transporte alternativo – mais caro, porém mais rápido e confortável –, que seduza os donos de carros. “Seria uma rede formada por vans, com ar-condicionado, que possa competir com os veículos de passeio”, detalha. Rodrigues diz que é necessário ainda investir em obras viárias, como a trincheira ligando as avenidas Américo Vespúcio e Bernardo Vasconcelos, na região Norte, para facilitar o acesso entre grandes vias. POLÍTICAS O presidente da BHTrans, Ricardo Mendanha, diz que diversas providências para melhorar as condições de tráfego estão sendo tomadas. Uma delas é a ampliação da capacidade de alguns dos maiores corredores de tráfego, como as avenidas Cristiano Machado e Antônio Carlos, com a criação de pistas exclusivas para ônibus, que possibilitariam um transporte mais rápido. Para desestimular o uso de veículos de passeio, a empresa aumentou, nos últimos anos, as áreas de estacionamento rotativo, cuja folha custa R$ 2,30, nos postos credenciados, e, recentemente, anunciou política de descontos nos táxis. Com a inauguração do Bulevar Arrudas, no Centro, pretende, ainda, estimular o uso da Avenida dos Andradas, cujas pistas foram alargadas, como rota de passagem. Mendanha afirma que, diante das previsões, a prefeitura encomendou um diagnóstico do trânsito da capital a uma consultoria especializada. O trabalho deve ficar pronto em dois meses e fornecerá informações como os principais pontos de gargalo e as rotas de deslocamentos. Com base nos dados, será criado, também por empresa terceirizada, um plano de mobilidade para BH, com estratégias para amenizar os problemas. “Várias propostas serão analisadas e não podemos descartar nem o rodízio na área central, a região mais saturada”, adianta. O instalador de gesso Edno Evangelista Pinheiro, de 33 anos, perde, diariamente, cerca de duas horas ao volante, o que representa um quarto da jornada de trabalho. “Preciso do carro para trabalhar, porque transporto material e visito clientes em diferentes endereços. Se usasse o ônibus, perderia muito tempo. Sinto que estou envelhecendo no trânsito”, reclama. |
07 mar 2007 - Estado de Minas - 06/03/07Voltar