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Profissional que preparava aluna para teste de direção garante que não recomendou o uso de Propranolol. Jovem continua em estado grave e sindicato alerta auto-escolas da capital

Pedro Ferreira - O caso de Nadir Maria de Oliveira, de 25 anos, que tomou Propranolol para reduzir a tensão na hora de fazer exame de motorista e entrou em coma, assustou candidatos e pôs o Sindicato dos Proprietários dos Centros de Formação de Condutores (Siprocfc) em alerta. O uso do remédio para combater a hipertensão, que chega a ser recomendado por alguns instrutores, de acordo com parentes, pode deixar o aluno mais tranqüilo, mas os riscos são imensos, como aconteceu com a comerciária, que continua internada no Hospital Odilon Behrens, em estado grave.

O instrutor Danilo Moreira, de 36 anos, negou ontem que tenha recomendado o uso do medicamento a sua aluna. Nadir, que é asmática e teve uma parada cardiorrespiratória depois de tomar Propranolol, queria ficar mais calma no teste de direção na manhã de segunda-feira. Danilo presta serviços à Auto-escola Motora, no bairro Floramar, na região Norte.

“Eu não sabia que ela tinha tomado o remédio. Nadir entrou no carro e começou a chiar muito, tendo uma crise asmática. Eu perguntei se tinha a bombinha, mas ela tinha esquecido em casa. Então, saí de carro para procurar uma farmácia”, conta o instrutor. Como não houve melhora, Danilo chamou uma unidade de resgate, que levou a jovem para o hospital. Ela trabalha como caixa de uma mercearia do bairro Serra Verde, onde mora, na região de Venda Nova, e seu sonho é ter um carro, segundo os parentes.

O instrutor acompanhou a aluna até o hospital, onde perguntaram se ela havia tomado algum medicamento. “Eu fui olhar no carro e encontrei a embalagem do medicamento vazia”, disse. “Nunca recomendei qualquer remédio a meus alunos”, defendeu-se. O dono e gerente da auto-escola, Anderson de Jesus Gomes, de 30 anos, disse que só recomenda suco de maracujá a seus alunos, para tranqüilizá-los na hora dos exames.

RISCOS A diretora-técnica do Odilon Behrens, a pediatra Míriam Souza, disse que o estado de saúde de Nadir continua grave e que ela tem poucas chances de se recuperar. “Qualquer medicação tomada sem a supervisão médica expõe as pessoas a riscos. Para quem tem uma outra doença de base é ainda mais contra-indicado tomar qualquer medicação”, alerta. Míriam conta que Nadir teve uma crise de broncoespasmo grave, em função do medicamento. “Ela tem uma história de asma, que evoluiu para um estado grave”, explicou.

O irmão de Nadir, o educador Nelcídio Geraldo Carneiro, de 36 anos , também fez um alerta às pessoas que tomam remédios sem indicação médica. “Gostaríamos que outras famílias não passassem pela angústia que estamos vivendo. Meus pais são idosos e não têm estrutura psicológica para enfrentar uma situação como essa, com a minha irmã nesse quadro de saúde grave”, disse. “Não sabíamos que Nadir pretendia tomar Propranolol para fazer o exame de direção, mas tudo indica que em uma outra ocasião, numa primeira tentativa de tirar a carteira de motorista, tenha tomado a metade de um comprimido. Já fiz exames de direção e sei que o uso de Propranolol é comum nas auto-escolas”.

A instrutora de auto-escola Mônica Santos, de 43 anos, que acompanhava um candidato no teste, afirmou que tomou conhecimento do Propranolol pelos alunos. “Não recomendo a ninguém. Eu não sou médica”, garantiu. A comerciante Adriane Magalhães, de 37, que tentou tirar a carteira de motorista ontem no bairro Alípio de Melo, região Noroeste, pela quarta vez, conta que já ofereceram Propranolol, mas ela recusou. “Uma amiga chegou a tomar. Eu só uso suco de maracujá”, disse.

A vice-presidente do Siprocfc-MG Rosa Maria de Magalhães, disse que não sabia dessa prática nas auto-escolas. “Considero a situação gravíssima”, afirmou. A entidade, adiantou Rosa Maria, vai desenvolver um trabalho para alertar os centros de formação de condutores sobre o perigo da automedicação. “Os alunos devem buscar outras formas de se tranqüilizar na hora dos exames, como dormir bem na noite anterior e se preparar melhor para as provas.”

06 jan 2014 - JORNAL ESTADO DE MINASVoltar