NOTÍCIAS » UM ATROPELADO A CADA DUAS HORAS E 48 MINUTOS

Marcas de uma tragédia diária
A cada duas horas e 48 minutos uma pessoa é atropelada em BH. Falta de consciência de motoristas e pedestres, além de políticas públicas falhas, aumenta estatísticas desfavoráveis
Ingrid Furtado
Beto Novaes/EM/D.A PRESS
Vítima de atropelamento, há um ano, Marco Antônio não trabalha mais
O trauma não está apenas na perna, esmagada por uma moto em alta velocidade. O drama e as sequelas de um atropelamento aparecem no rosto cabisbaixo e triste do armador de ferragens Marco Antônio dos Santos, de 42 anos. Há um ano e dois meses ele anda com a ajuda de muletas, foi afastado do trabalho e não se arrisca mais a um momento de lazer longe de casa. Tragédias pessoais como a dele são mais comuns do que se imagina nas vias de Belo Horizonte: a cada duas horas e 48 minutos, uma pessoa é atropelada na capital, média de oito por dia e 260 por mês. Muitas pessoas atropeladas não tiveram a mesma chance de Antônio de sobreviver. Levantamento da BHTrans e do Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) mostra que os pedestres são as principais vítimas de acidentes de trânsito. Em 2007, das 227 mortes, 41% eram de pessoas a pé.

O rastro de imprudência e sangue percorre as principais vias da cidade. No ranking das mais violentas, a Avenida Amazonas aparece em primeiro lugar, na qual 186 pessoas foram atropeladas em 2007. A Afonso Pena surge em segundo, com 147 vítimas, seguida da Antônio Carlos (125). O Anel Rodoviário é a quarta via na qual mais atropelamentos ocorrem, com 107 vítimas registradas no período. Enquanto a morte avança no trânsito e ganha o asfalto da capital, especialistas afirmam que o desafio de reduzir óbitos e feridos está longe de se resolver.

É que na hora da travessia o problema não está na potência dos carros ou na lentidão do pedestre. A grande questão é a falta de educação e imprudência das pessoas. É o que explica o diretor de Operação e Ação Regional da BHTrans, Édson Amorim. “Isso só se altera a longo prazo, com campanhas intensas de conscientização”. Ele acredita que a culpa dos atropelamentos é dividida entre motoristas e pessoas a pé. “De um lado, o pedestre atravessa em lugares inapropriados e do outro condutores de veículos avançam o sinal vermelho. Apesar de não ter os números de 2008 e 2009, Amorim é pessimista quanto à redução dos atropelamentos nos dois últimos anos.

Mas, apesar de reconhecer a necessidade, a empresa que cuida do trânsito de BH investiu, em 2008, 17% em educação para o trânsito dos mais de R$ 48 milhões arrecadados em multa. Em 2007, o percentual foi ainda menor: 12%, dos R$ 42 milhões.

O armador de ferragens Marco Antônio dos Santos conhece bem em que se transformou sua rotina. Ele mora no Bairro Nazaré, Região Nordeste de BH, e conta que pegava serviço cedo na construção civil e saía por volta das 16h30. “Eu havia largado o serviço quando fui pegar o ônibus na Cristiano Machado, perto do Bairro Nova Floresta. Esperei o sinal fechar para os carros e iniciei minha travessia. Quando estava quase no fim, perto do passeio, um motoqueiro avançou o sinal e me atropelou. Eu estava certinho, mas não teve jeito. Levei a pior. A roda da moto esmagou minha perna, provocando fratura exposta”, afirma o armador.

Ele conta que, com a ajuda de um motorista de ônibus, foi socorrido e, por pouco, o motoqueiro não escapou da responsabilidade. “Com medo de o motoqueiro fugir, o condutor do coletivo me deu apoio e fizemos a ocorrência policial. Mas o que fica é a certeza de nossa fragilidade. Até hoje não voltei ao trabalho”, diz.
13 jul 2009 - ESTADO DE MINASVoltar