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Viagem 10 vezes mais perigosa
Levantamento do DER-MG mostra que o número de mortos em acidentes envolvendo transporte clandestino entre municípios é muito superior ao do sistema legalizado


Fábio Fabrini e Luiz Ribeiro
Marcos Michelin/EM

Na Avenida Oiapoque, imediações da Rodoviária de Belo Horizonte, motorista de carro de passeio oferece viagem para Ribeirão das Neves pelo mesmo preço do ônibus

A quantidade de mortos em acidentes no transporte intermunicipal clandestino em Minas é quase 10 vezes superior ao total de óbitos em acidentes com veículos que fazem o transporte legalizado, repetindo a mesma diferença em relação aos feridos. Os números são do levantamento da Divisão de Fiscalização Operacional do Departamento de Estradas de Rodagem (DER/MG), que anuncia o aumento da vigilância contra a pirataria no transporte, em parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), responsável pela “Operação Verão”.

A preocupação com mais mortes aumenta no fim de ano, quando dezenas de milhares de pessoas viajam para visitar parentes e recorrem às vans ou carros ilegais para economizar. Nos arredores da rodoviária de Belo Horizonte, aumentou o número de motoristas à cata de passageiros, anunciando vários destinos de Minas, com passagens a preços mais baixos do que os praticados pelas empresas das linhas regulares. Este ano, além do aumento normal da demanda, a crise aérea estimula a procura por partidas terrestres. Ao optar pela “vantagem”, o passageiro pode estar arriscando a própria vida.

De acordo com as estatísticas, entre 2000 e 2005, 42 pessoas morreram em acidentes com veículos que faziam o transporte regulamentado, enquanto que o número de mortos em desastres envolvendo perueiros foi de 349. No mesmo período, 235 pessoas ficaram feridas nas batidas com a frota legalizada, contra 1.301 no segundo caso. Quando comparada a quantidade de acidentes, as estatísticas se invertem: 251 no sistema regular, ante 122 no clandestino. Isso sugere que a violência das batidas com ônibus, microônibus, carros e vans piratas é maior, porque, para cada ocorrência, o número de vítimas é superior.

O chefe da Divisão de Fiscalização Operacional do DER, Lindberg Ribeiro Garcia, afirma que as estatísticas servem de alerta, porque mostram o alto risco que as pessoas correm ao recorrer a veículos que fazem o transporte coletivo irregular, sem nenhum tipo de fiscalização. “Além dos prejuízos para as empresas regulamentadas e da evasão de receitas para o estado, o transporte clandestino tem uma conseqüência mais séria, que é o risco da perda de vidas: as pessoas viajam sem condições de segurança e o pior é que as vítimas não têm como receber indenização”, assinala Garcia.

POSTOS DE FISCALIZAÇÃO O DER anunciou que vai reforçar o combate ao transporte clandestino, criando um serviço que vai funcionar de forma permanente. A proposta é a montagem de postos de fiscalização em pontos estratégicos nas rodovias sob a jurisdição do órgão, tendo como única finalidade a vistoria dos veículos que fazem o transporte coletivo de passageiros. De acordo com Garcia, os postos permanentes já foram testados num projeto-piloto e a expectativa é que o serviço comece a funcionar em definitivo ainda nos primeiros meses de 2007.

Nos arredores da rodoviária, o número de aliciadores de passageiros para os veículos clandestinos aumentou. A maioria oferece viagens até 50% mais baratas que as do guichês do terminal, aliada a uma série de “vantagens” que ajudam a cativar clientela. Enquanto a passagem para Governador Valadares é vendida a R$ 50 no guichê da rodoviária, o perueiro oferece o transporte a R$ 30. A diferença é de R$ 75 para R$ 60, na viagem para Montes Claros, e de R$ 70 para R$ 45, na ida para Teófilo Otoni. “A van é mais rápida, tem ar-condicionado e deixa o senhor em casa”, explica um deles, que se identifica como Marcos.

As partidas ocorrem a cada hora, principalmente para as regiões mais pobres do estado, como o Leste e o Norte, onde a carência de linhas regulares é grande e o poder aquisitivo dos passageiros, menor. Para evitar problemas com a fiscalização, os embarques muitas vezes ocorrem em estacionamentos privados, nos quais os agentes do DER e da BHTrans são proibidos de entrar. Além das vans, ônibus e microônibus, entraram na concorrência os carros particulares, cuja identificação pelos fiscais é mais difícil.

Na Rua Oiapoque, ponto de embarque para Ribeirão das Neves e Esmeraldas, eles chegam a fazer fila para o embarque de passageiros. A passagem para o Bairro Veneza, em Neves, custa R$ 2,70, mesma tarifa do ônibus convencional. Na BR-040, em frente à Central de Abastecimento (Ceasa), a cena se repete, apesar dos esforços da PRF no combate à pirataria. “Sei que tem risco, mas o ônibus demora muito, é lento e vive lotado”, comenta a costureira Cléia Aparecida Sobrinho Lopes, de 40, moradora do Bairro Baronesa, em Santa Luzia.
18 dez 2006 - Estado de Minas-GERAIS - 18/12/06Voltar