NOTÍCIAS » A EDUCAÇÃO DE TRÂNSITO: UM PROJETO EDUCACIONAL AMPLO PARA A POPULAÇÃO

O automóvel, o progresso, a globalização encurtou distâncias mas muitos problemas surgiram deste grande ganho. Atualmente, no Brasil, principalmente nos grandes centros e nas rodovias mal cuidadas, o trânsito vem se tornando um ambiente de desrespeito, de hostilidade e agressividade que converge para o índice significativo de mortalidade. Esse quadro caótico em que se transformou o trânsito, tendendo a incrementar as páginas da violência no país, precisa ser revertido, de forma a se humanizar o trânsito.
Dentre os diversos acontecimentos que causam intranqüilidade à sociedade, estão os acidentes de trânsito com vítimas, envolvendo não só os motoristas, mas também os pedestres, além de problemas que envolvem estradas, policiamento deficitário, fazendo crescer um problema preocupante, cuja solução é complicada, por envolver muitos fatores de ordem social e jurídica.
O Brasil é campeão mundial de acidentes do trânsito, com estatísticas apontando 25 mil mortos no local dos acidentes e 350 mil feridos, dos quais cerca de 30% acabam falecendo, tanto por causa dos ferimentos quanto pelas infecções hospitalares. Em condições de trânsito intenso, cada veículo pode se tornar um obstáculo potencial para outro. Um veículo estacionado legalmente em um acostamento pode se tornar um obstáculo inesperado para outro que, por alguma razão, tenha saído do controle do motorista.
Quanto a como o assunto está sendo tratado existe consciência de departamentos, secretarias, controladorias e escolas de condutores de que é necessário conhecer e respeitar as leis de trânsito, exercendo a cidadania e respeitando uns aos outros para poder ser respeitado. Nesses termos, entendemos que os caminhos da cidadania passam sempre pela estrada da Educação. Ao respeitar a legislação de trânsito, o homem demonstra estar exercendo a sua cidadania, ter boa educação, saber respeitar o direito e a vez do outro; ter paciência e prudência; além de passar bons exemplos para os filhos e familiares. Se assim não ocorre, o desrespeito à legislação de trânsito implicará em agressões do indivíduo a si mesmo, a sua família, à comunidade e à natureza e a suas respectivas vidas.
Para minimizar estes impactos, entendemos que os conteúdos mais importantes a serem trabalhados nas escolas, sob o incentivo de que esses conteúdos e as discussões envolvessem as famílias, os bairros e toda a cidade seriam: a segurança ativa, a divulgação dos trabalhos de secretarias de estado e departamentos de trânsito, o conhecimento do Código de Trânsito e principalmente das leis, todos voltados para o respeito à vida.
Atentamos que o novo Código por ele mesmo, na condição apenas de documento nada resolve, pois os acidentes continuam, por faltarem programas educativos. É preciso um projeto educacional amplo para a população, principalmente para as escolas de primeiro e segundo graus.
Além da escola, devemos ressaltar que, em primeiro lugar, a descoberta de valores ocorre no âmbito vital da família, embora muitas vezes optar por certos valores significa escolher, entre os melhores, aqueles que mais convenham, numa família concreta com as suas circunstâncias atuais, para o desenvolvimento pessoal de cada membro e para a melhoria familiar.
Encontramos e utilizamos uma série de bons exemplos de trabalhos que vêm sendo desenvolvidos no Brasil e em outras partes do mundo, buscando por meio da educação, integradora e motivadora, minimizar esses números assustadores que endossam as estatísticas dos crimes de trânsito. O Detran-PR construiu um programa de educação de trânsito com enorme abrangência, partindo de campanhas e de programas educativos, com elaboração de cartilhas, folders e convênios com escolas, chegando a parcerias em pesquisas e dissertações de mestrado com esse objetivo. No Rio Grande do Norte, o Programa Norte-riograndense de Educação de Trânsito (PNET) consta de uma proposta pedagógica para desenvolver o tema Trânsito no ensino fundamental da 1a à 8a séries, ensino médio e escola normal.
Assim, chegamos a nossa proposta de trabalhar muito para que o ambiente do Trânsito seja reeducado, levando as crianças e os jovens o essencial sobre a conceituação de Trânsito, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, ensinando que a utilização das vias é um direito de todos, e que embora o espaço público pertença a todos de maneira igualitária, nem sempre a convivência social no trânsito parece basear-se nesse princípio de igualdade.
Essa preocupação é de todos os brasileiros, considerando que o novo Código de Trânsito resultou de projeto que tramitou durante anos no Congresso Nacional, embora, há muito tempo, fosse urgente e necessária a sua implantação no País. A sua vigência, o ordenamento legal já trouxe reflexos positivos no que tange à prevenção dos delitos de automóvel, sendo, portanto, o seu estudo, em linhas gerais, absolutamente oportuno, se feito de forma objetiva. O conhecimento das espécies de punição, inclusive da multa recolhida em favor da vítima e, ou, de seus sucessores constituem discussões de grande interesse nas conferências oferecidas aos jovens.
Da mesma forma que precisamos aprender a ler para entender e transformar o mundo, precisamos criar um processo de alfabetização no trânsito, para aprender a ler nossa cidade, nossas ruas e estradas, melhorando significativamente a qualidade de vida no país.”

* João Pedro Martins é diretor e proprietário do CFC Sabará, Mestre em Educação de Trânsito pela UNIFRAN-SP, doutorando em Educação de Trânsito pela UNICAMP-SP, diretor didático pedagógico da Faculdade de Sabará e autor dos livros: Campanhas Educativas nas escolas, Educação de Trânsito: desequilíbrios regionais, Ensinando educação de trânsito na escola e aprendendo educação de trânsito na escola.

28 mar 2006 - Informativo PRÓ-TRÂNSITO - SIPROCFC-MGVoltar