NOTÍCIAS » AUMENTO DE INTERNAÇÕES DE VÍTIMAS DE ACIDENTES SOBRECARREGA COFRES DA SAÚDE

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O número de internações do Sistema Único de Saúde (SUS) em Minas por causa de acidentes de trânsito aumenta a cada ano, segundo dados do Ministério da Saúde reunidos pela Secretaria de Estado da Saúde (SES). Entre janeiro e novembro de 2013 (o balanço não inclui dezembro), houve 21.305 internações (média de 58,4 por dia), quase o dobro das 11.746 registradas em todo o ano de 2008. Os primeiros 37 dias de 2014 somaram 3.651 internações, média de 98,67 por dia. As vítimas mais frequentes são homens, sobretudo motociclistas, e pedestres. As ocorrências custam caro aos cofres públicos. Em 2014, elas consumiram R$ 6,132 milhões, média de R$ 1.679 cada, enquanto em 2013 foram gastos R$ 34,5 milhões (R$ 1.623 cada) e em 2008, R$ 17,1 milhões (R$ 1.460 cada).
Entre janeiro e 6 de fevereiro deste ano, 1.693 internações (46,37% do total) foram de motociclistas, segundo levantamento feito pela SES a pedido do Estado de Minas. Desse grupo, que inclui condutores e passageiros, 102 pacientes colidiram com carros, picapes ou caminhonetes, 42 bateram em veículos de transporte pesado ou ônibus, e 20 em motorizados de duas ou três rodas. Mais 58 se chocaram com pedestres, animais, bicicletas ou outros veículos não motorizados, objetos fixos ou parados e até em veículos ferroviários (trem ou metrô). Ainda houve 239 que se acidentaram sem se envolver em qualquer colisão. A maior parte do total, 1.232, sofreu traumas em tipos de acidentes não especificados no banco de dados do Ministério da Saúde.
Do início de 2008 a 6 de fevereiro deste ano, o SUS em Minas somou 104,4 mil internações por acidentes de trânsito, com 79,1% dos pacientes (82.583) do sexo masculino e 20,9% do feminino. A faixa etária campeã foi de 20 a 29 anos, com 30.584 casos (29,3% do total). No mesmo período, esses jovens responderam por 18.498 internações de condutores e passageiros de motos, 49,59% do total nessa categoria (45.567). Nesse grupo está Leandro Rodrigues Marciano, de 20 anos, que cursa o 3° ano do ensino médio e trabalha como auxiliar de produção. No dia 11 deste mês, logo após o almoço, ele pilotava uma moto no Bairro Céu Azul, na Pampulha, quando foi atingido por uma van de transporte escolar. “Eu estava subindo a rua. A van vinha descendo, a motorista foi fazer uma conversão à esquerda. Acho que não me viu e bateu em mim”, conta o jovem, que não é habilitado.
Leandro sofreu deslocamento do ombro direito e fratura exposta na perna esquerda. Está internado há 21 dias. Precisou passar por cirurgias. “Nos primeiros dias doía muito e precisei tomar morfina. O médico falou que posso não recuperar completamente os movimentos do pé esquerdo. Isso me preocupa. Toda semana eu jogava futebol, gosto muito, estou com medo de não poder mais.” Ele comprou a moto há um mês, e, por insistência dos pais, já pensa em abandonar o veículo. “Por mim ele não pilota mais. Vou ficar apreensiva toda vez que ele pegar a moto”, diz a mãe, a dona de casa Orádia Rodrigues Costa, de 51.
A segunda faixa etária com mais internações é de 30 a 39 anos, com 20.066 casos entre 2008 e 6 de fevereiro deste ano, 19,2% do total. Depois dos motociclistas, os pedestres compõem o segundo grupo de vítimas mais internadas no SUS em Minas. No primeiro bimestre deste ano foram 880 internações (24,10% do total), 110 provocadas por colisões com bicicleta e 56 com veículos motorizados de duas ou três rodas. Outras 45 foram causadas por atropelamentos por carros, picapes ou caminhonetes, e mais 10 por veículo de transporte pesado ou ônibus. A maior parte dos pacientes (663) se envolveu em acidentes de trânsito não especificados pelo ministério.
IMPRUDÊNCIA
O aumento das internações tem três causas, na análise do coordenador do Núcleo de Logística da Fundação Dom Cabral, o doutor em planejamento de transportes Paulo Resende. “Além do aumento da frota de veículos, há a falta de investimento em infraestrutura, o que deixa ruas e rodovias em más condições. Ainda há falhas de comportamento de motorista, pedestre, motociclista e ciclista, que muitas vezes ingerem álcool e são imprudentes. Salta aos olhos o conflito entre motos e carros.” Ele se refere ao fato de as internações de motociclistas após colisões com carros, picapes e caminhonetes ter aumentado cinco vezes entre 2008 (139) e 2013 (701), quando houve 1,92 casos por dia, contra média de 2,75 este ano.
Resende ressalta que as internações não custam caro apenas para os cofres públicos. Quase metade delas entre 2008 e fevereiro deste ano foram de pessoas entre 20 e 39 anos. “É a faixa etária em que são mais frequentes a ingestão de álcool e outras drogas, a falta de experiência e o comportamento de risco. São jovens que estão no pico da vida útil. Os acidentes geram custos enormes para as empresas privadas e, consequentemente, perdas para a economia nacional. Criam um caso para a produtividade do país.”
Tiago de Holanda
Publicação: 05/05/2014 06:00 Atualização: 05/05/2014 07:34
Foto (crédito) :Ramon Lisboa/EM/DA Press
Arte (crédito): EM
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06 mai 2014 - Portal UaiVoltar