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Celular é distração perigosa para pedestres no trânsito

Morte de pedestre atropelado em avenida falando ao celular reacende alerta para abuso cometido tambémpor motoristas. Estado de Minas fez vários flagrantes em apenas uma hora
Pedro Ferreira -
Publicação: 14/06/2012 06:00 Atualização: 14/06/2012 07:29

O atropelamento de um pedestre por um ônibus enquanto falava ao celular na Avenida Getúlio Vargas, nanoite de segunda-feira, não é um caso isolado e expõe um problema crescente: a falta de atenção notrânsito, inclusive de motoristas. Dirigir usando o telefone está no topo do ranking das multas aplicadas peloBatalhão de Trânsito (BPTran). Foram 26.236 autuações até maio. Os pedestres, no entanto, pegam caronana desatenção, distraindo-se com mensagens de texto, internet no smartphone, aparelhos eletrônicos efones de ouvido no momento de atravessar ruas e avenidas.
A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia divulgou pesquisa recente sobre riscos da distração notrânsito. Em 66% dos casos, o pedestre respondeu que usava celular, estatística que só perde paraatravessar com sinal fechado e fora da faixa. Essa atitude se equivale, com base nas respostas de cariocase paulistas entrevistados no trabalho, ao fato de não olhar para os dois lados antes de atravessar.
Ontem, durante uma hora, reportagem do Estado de Minas flagrou 20 pessoas atravessando ruas ouavenidas de olho no aparelho, muitas fora da faixa e com o sinal aberto para veículos. Segundo o diretor daAssociação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), Dirceu Rodrigues Alves Júnior, o pedestre quemanuseia o telefone, atende uma chamada ou se diverte com equipamentos eletrônicos que tocam músicasperde capacidades importantes de avaliação e resposta.
“O indivíduo tem dificuldade de atenção e lentidão no raciocínio e também não consegue ter uma respostamotora rápida e adequada à situação de risco, se perde no espaço, deixa de ouvir a buzina, a frenagem.
Com isso, corre o risco de ser atropelado, de esbarrar em alguém, de tropeçar ou cair em buraco”, alerta oespecialista.
Estudo da Universidade de Stony Brook, de Nova York (EUA), diz que 60% das pessoas não conseguemandar em linha reta quando usam o celular na rua. “Distraído, ele fica ainda mais suscetível ao acidente. Opedestre anda muito desorientado, afoito, atravessa fora da pista e ainda teclando no celular ou navegandona internet. Na verdade, a tecnologia atrapalha nesse sentido e deve ser evitada na rua ou no trânsito, porquem está de carro. Nem mesmo o GPS deve ser consultado, a não ser que o motorista estacione edesligue o carro. Perdido nesse universo, entretido com a tecnologia ou a música, ele não se concentra. Maso pedestre é quem mais deve se proteger, porque é a maior vítima do trânsito, seguido pelo motociclista e sódepois o motorista”, completa Dirceu.
Atento aos motoristas que dirigem usando o celular, o comandante do Batalhão de Trânsito, tenente-coronel
Renato Lemos, percebe que cada vez mais os pedestres também se arriscam falando ao celular,
principalmente na região da Praça Sete, no Centro de BH. Situações assim, em algumas cidades
americanas, resultam em punição e pagamento de multa, para evitar acidentes com pedestres. “Tem muitagente atravessando a Avenida Afonso Pena falando ao celular. A gente percebe que a pessoa está sematenção, mas só podemos multar o motorista. Toda hora a gente faz autuação de veículos em movimentocom a pessoa falando ao celular”, diz o militar. No ano passado, a unidade multou 48.480 motoristas.
Na noite de segunda-feira, Milton Rodrigo do Prado, de 27 anos, morreu atropelado quando atravessava aAvenida Getúlio Vargas na esquina com a Rua Maranhão, no Bairro Funcionários. Testemunhas
confirmaram que ele falava ao celular e que olhou apenas para um dos lados da via. No ano passado, oHospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS) atendeu 2.641 vítimas de atropelamento. Este ano,1.174, 117 só em junho. Em Minas, são 24,7 milhões de aparelhos, segundo a Agência Nacional deTelecomunicações (Anatel), uma média de 1,2 aparelho por habitante.
De acordo com o tenente- coronel Lemos, pedestres e motoristas envolvidos em acidentes não admitem quefalavam ao celular. “Escondem esse dado e não conseguimos constar na ocorrência. Se negam a falar porentender que vão perder direito, ser prejudicados, e usam isso como defesa”, explica. “No trânsito ou na rua,o uso do aparelho causa perda de concentração e falta de atenção. Muitas vezes, o pedestre usa celular enão percebe que a via é de mão única , mão dupla, ou se o semáforo está aberto para ele. Perde totalmentea visão periférica, pois está concentrado naquela conversa. Às vezes, até discutindo com a esposa enamorada, e perde a noção do perigo, ao invés de parar, conversar e resolver tudo”.

19 jun 2012 - Jornal Estado de MinasVoltar