NOTÍCIAS » DETRAN DE MINAS IGNORA BAIXO ÍNDICE DE APROVAÇÃO E NÃO FISCALIZA AUTOESCOLAS

Nunca foi tão difícil conquistar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) em BH. A prova está nos números do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) que mostram que, em 2014, a média de aprovação nos exames de rua realizados na capital foi de 27,6%. Em 2007, último ano em que o órgão disponibiliza dados da prova, o percentual era de 38%.
Índices tão baixos trazem à tona uma antiga discussão sobre o processo para se tirar uma carteira – da legislação ao serviço oferecido pelas autoescolas, bem como o modelo de teste adotado. Pela resolução 358 do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), os centros de formação de condutores (CFCs) devem apresentar taxas de aprovação iguais ou superiores a 60% na hora de renovar o credenciamento.
Caso não alcancem a meta, cabe ao Detran solicitar ao diretor de ensino da instituição uma proposta de planejamento para sanar possíveis deficiências no processo pedagógico. Persistindo o problema, os profissionais devem passar por uma reciclagem.
Embora a regra vigore desde 2011, nunca foi cumprida na capital. Das 288 escolas que existem na cidade, apenas seis conseguiram atingir a média de aprovação no ano passado. O desempenho delas, porém, sequer pode ser comemorado: são instituições novas que capacitaram apenas um ou dois candidatos para o teste de direção.
As 282 restantes não passaram por nenhum tipo de supervisão para melhorar a performance dos alunos nos exames de rua. Responsável pela ação, o Detran não se manifestou sobre o assunto.
Falhas
“Se não conseguimos chegar próximo da taxa estipulada pelo Denatran, é sinal de que existe uma deficiência muito grave que precisa ser corrigida”, afirma Márcio Aguiar, professor de engenharia de transportes e trânsito da Universidade Fumec.
Para ele, é necessário fiscalizar as autoescolas que apresentam altos índices de reprovação, até mesmo para evitar que haja interesses financeiros por trás de tantas reprovações.
Além disso, acrescenta o especialista, os centros devem renovar os métodos de ensino. “A fórmula para ensinar uma pessoa a dirigir é praticamente a mesma de décadas atrás. E o aluno não sai das aulas pronto para encarar a rua. Ele é treinado para realizar o exame”, aponta.
Presidente do Sindicato dos Proprietários dos Centros de Formação de Condutores de Minas, Rodrigo Fabiano da Silva, até reconhece a necessidade de investir mais em capacitação dos instrutores. No entanto, ressalta, esse está longe de ser o principal problema.
De acordo com Rodrigo, a implementação do cone para a manobra de baliza, em 2009, só piorou o desempenho dos alunos. E embora a carga horária obrigatória de aulas tenha aumentado recentemente de 20 para 25 horas, ele diz que o tempo é curso para preparar uma pessoa para o teste.
“O legislador não nos dá condições de desenvolver um trabalho correto e coerente, que garanta uma formação atualizada para os futuros condutores”.
Reciclagem resulta em bom desempenho na legislação
Embora o maior índice de bombas seja nos exames de rua, há muitos candidatos que também não conseguem se sair bem na prova teórica do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran). A média de reprovação entre os que tentam tirar a primeira habilitação em Minas Gerais é de 36%, informou Maria Cecília Lopes de Abreu, coordenadora de educação de trânsito do órgão.
“A média está abaixo do que é estipulado pelo Denatran (Departamento Nacional de Trânsito). Ainda temos um caminho longo a percorrer”, admite.
Mas se nada é feito para pressionar as autoescolas a melhorar o desempenho nos testes práticas, o mesmo não pode ser dito sobre a prova de legislação. Desde o ano passado, profissionais dos Centros de Formação de Condutores (CFCs) que apresentaram os piores resultados passam por uma espécie de reciclagem.
“As aulas são semipresenciais e têm duração de dois meses. Nesse tempo, 1,2 mil pessoas, de 300 escolas, aprendem novas técnicas de ensino”. Ao fim do curso, instrutores e diretores de ensino são submetidos a uma prova. São aprovados os que tiram notas superiores a 70%.
A ação surtiu resultados, garante Maria Cecília. No último levantamento realizado pelo Detran, apenas duas autoescolas que já tinham passado pela capacitação tiveram que ser chamadas, mais uma vez, para repetir o treinamento. “A repercussão foi tão boa que alguns CFCs estão pedindo para fazer o curso, mesmo que já tenham altas médias de aprovação”, destaca.
26/01/2015 09:42 - Atualizado em 26/01/2015 09:42
Raquel Ramos - Hoje em Dia Imprimir
Foto (crédito): Eugênio Moraes/Arquivo

27 jan 2015 - Site Hoje em DiaVoltar