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Acidentes
Lei menos seca nas BRs de Minas
Balanço de um ano da legislação que aumentou a punição para motorista que bebe mostra que estado segue na contramão das estatísticas nacionais e registra mais mortes em rodovias
Paulo Henrique Lobato
BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS
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A Lei Seca (nº 11.705/08), que amanhã completa um ano e foi sancionada com o objetivo de pôr fim à matança no trânsito brasileiro, ainda é ignorada por milhares de motoristas que trafegam pelas perigosas BRs do país. Balanço da Polícia Rodoviária Federal (PRF) divulgado ontem informa que 1.345 condutores foram presos nas estradas que cortam Minas Gerais por infringir a norma. O número impressiona, pois revela média mensal de 112 registros e representa 15% dos 9 mil infratores detidos pela corporação nos 27 estados e no Distrito Federal. O mau comportamento de muitos condutores nas rodovias da União em Minas se refletiu no aumento de 8% no número de mortos em acidentes, na comparação dos 12 meses anteriores à nova lei com os 12 posteriores: de 1.076 para 1.164.

Os números revelam que, assim como Belo Horizonte – onde o número de mortos no trânsito subiu, em contraste com a queda registrada em capitais como Rio e São Paulo –, Minas trafega na contramão do restante do país. Na média nacional, houve queda na quantidade de vidas perdidas em rodovias federais, ainda que tímida, de 2% (de 6.729 para 6.614). E não foi só a estatística de mortes que cresceu nas BRs mineiras. O total de acidentes subiu 6% (de 21.396 para 22.688) e o de feridos teve ligeiro aumento: de 14.683 para 14.778. Esses dois últimos indicadores também subiram em nível nacional. Enquanto o balanço de acidentes aumentou 7% (de 127.683 para 138.226), o de feridos subiu 4% (de 76.056 para 79.269).

E nem mesmo a pesada multa prevista na Lei Seca, de R$ 955, inibe alguns dos infratores. O bacharel em direito J.S., de 30 anos, foi punido com o valor, no fim de 2008, ao ser abordado por um policial militar no cruzamento das avenidas Amazonas e Francisco Sá, no Bairro Prado, na Região Oeste de Belo Horizonte. Ele havia acabado de sair de um bar, onde bebeu “mais ou menos 10 long necks com os amigos”. Apesar de ser um intérprete da lei, ele não pensou duas vezes antes de sair de casa motorizado com a finalidade de se divertir numa conversa regada a cerveja. “Fui abordado numa madrugada. Levaram-me para o batalhão da PM, onde havia o bafômetro, e, em seguida, para a delegacia do Detran, onde fui multado. Minha carteira de habilitação foi apreendida e a busquei cinco dias úteis depois”, recorda.

J. foi detido porque tinha mais de seis decigrama de álcool por litro de ar expelido no bafômetro. Aqueles que são flagrados com medidas entre dois e seis decigramas também são multados, mas não são encaminhados à delegacia de polícia. Ele garante que aprendeu a lição.

COMPORTAMENTO Apesar da resistência de alguns motoristas e de dados de estados como Minas Gerais, o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Hélio Cardoso Derenne, avalia que a Lei Seca mudou o comportamento dos motoristas pelo menos nas rodovias federais. O inspetor embasa a conclusão em comparação entre junho de 2008, quando a norma entrou em vigor, e junho de 2009. No ano passado, os policiais registravam um flagrante de embriaguez a cada seis testes realizados. Atualmente, a proporção caiu de um para 40. “Como negar a positividade da lei sabendo que ela está mudando o comportamento dos motoristas, ao menos em rodovias federais?”, questiona. Ele acrescenta que a PRF fez 360 mil testes nos últimos 12 meses. Em Minas Gerais, os bafômetros foram soprados 45 mil vezes.

É importante lembrar que nem todos os 1.345 condutores detidos em Minas são mineiros, pois as BRs que cortam o estado são percorridas por milhares de motoristas que rodam pelo Brasil. Isso devido à posição geográfica estratégica e ao tamanho da malha viária federal, a maior do país, com cerca de 7 mil quilômetros.
19 jun 2009 - ESTADO DE MINASVoltar