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Familiares, parentes e amigos de vítimas de trânsito se reúnem para pedir paz

Caixa de texto: Inconformados com a perda de parentes mortos no trânsito de Brasília, familiares e amigos das vítimas realizaram ontem manifestação na ponte JK. Eles utilizaram cartazes e faixas com frases, como “abaixo a impunidade”, “respeito e paz no trânsito” e “que haja justiça”, para pedir o fim da violência nas pistas e a punição severa para os que cometem crimes no trânsito.   A data e o local foram escolhidos em memória dos dois anos da trágica morte de três mulheres passageiras de um Corolla. O carro delas foi atingido violentamente por um Gol dirigido por Paulo César Timponi.   Acusado pelo triplo homicídio, ele foi solto e ficou livre de júri popular por decisão da Primeira Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que entendeu que Timponi não teve a intenção de matar, mesmo dirigindo a mais de 130 quilômetros por hora quando bateu no carro das vítimas.

A deliberação foi por dois votos a um. O Ministério Público vai recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Durante todo o percurso na ponte JK, os manifestantes pararam algumas vezes para gritar por justiça. No fim da passeata, Luiz Cláudio de Vasconcelos, viúvo de Antônia Maria Barreto de Vasconcelos, morta violentamente no local, leu uma carta dirigida à população de Brasília, intitulada “Três mães, várias vidas”. O documento foi utilizado para manifestar a dor e o sofrimento de todas as pessoas que perderam parentes no trânsito.

Coube a Luiz Cláudio fazer o encerramento da manifestação. Agradeceu a todos afirmando que confia na Justiça Divina. “O que nos conforta é ter a certeza de que elas, por tudo o que realizaram entre nós, foram recebidas por Deus. A Justiça Dele não falhará e quem sabe até a dos homens de bem também não vai faltar”, concluiu, emocionado. A caminhada foi encerrada com uma oração.

Para Valquíria Cruz, avó de Giovanna, 5 anos, morta na faixa de pedestre em 2008, em

Planaltina, o sentido da manifestação foi dizer não à violência e pedir mais amor à vida. “As pessoas valorizam mais a máquina do que a vida. Só quem perde um parente é que tem noção da dor. É preciso que haja justiça para que sirva de exemplo para quem ainda não tem consciência do valor da vida. Por isso, estamos aqui em um clamor que é público”, disse.

SOS É DA SOCIEDADE

Camila Martins, mãe de Yasmin, 5 anos, morta na calçada de casa, disse que o grito de socorro é de toda a sociedade, que clama por justiça. “É revoltante você ver o criminoso vivendo como se nada tivesse acontecido. A impunidade é muito grande. Eles (os que matam no trânsito) são iguais a qualquer criminoso. Eu perdi a minha filha e me sinto presa, porque ele (o criminoso) continua dirigindo sem nenhuma punição”, desabafa

Camila.

O contabilista e funcionário público Cássio Rezende de Assis também perdeu sua mulher,

Cyntia, no mesmo acidente na ponte JK. Ele veio de Goiânia para a manifestação e conta que a perda da esposa representa uma cruz para ele para o resto da vida.

Cássio é pai de duas crianças, uma menina de 9 anos e um menino de 8. O funcionário público relata que um dia a filha dele perguntou: por que aquele homem que matou minha mãe está solto? Cássio disse que pensou para poder dar uma resposta convincente e adequada. Respondeu que não vai dormir nem fraquejar e que irá aonde tiver que ir para que a justiça seja feita.

Os gastos com crime de trânsito no país chegam a quase R$ 7 bi por ano, segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Denatran. Isso sem contar os danos psicológicos, financeiros e de saúde das famílias atingidas pelas perdas.

No DF, a média de jovens vítimas do trânsito cresceu 58,3% só neste ano, de acordo com o Detran.

09 out 2009 - Tribuna do Brasil ? 07/10/2009Voltar