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Superintendente da corporação diz que operações tapa-buraco são insuficientes e cobra investimento. EM contou 1.247 buracos nos 80 quilômetros entre Congonhas e BH
Izabela Ferreira Alves
Fotos: Sidney Lopes/EM/d.a press
Motoristas enfrentaram sinalização ilegível, radares parados e pista irregular na viagem de ida e volta do feriado de 1º de maio

BR-040, trecho Belo Horizonte/Rio de Janeiro. Quem aproveitou o feriado para viajar, enfrentou 1.247 buracos em menos de 80 quilômetros – um a cada 64 metros ou mais de 15 por quilômetro – do Posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Congonhas, na Região Central, até a região dos condomínios, na chegada a BH. A situação precária das pistas ajudou a aumentar o trágico saldo de pelo menos 14 pessoas mortas em acidentes, durante o recesso.

“Enquanto o governo não gastar os impostos de forma digna, usar bem o dinheiro, famílias honestas vão continuar correndo risco de morte.” O desabafo é do superintendente-geral da PRF em Minas Gerais, Valtair Vasconcelos. De folga, ele não pensou duas vezes antes de ajudar o psicólogo Carlos César Veiga, de 58 anos. Ele, a mulher e uma tia voltavam de Ouro Branco quando duas crateras interromperam a viagem. O motorista tentou desviar de “uma panela” do lado direito e caiu em uma maior, já na via da esquerda, no mesmo sentido, mas em uma curva. Resultado: dois pneus furados, o carro parado em um estreitamento de pista e as mulheres no meio do mato, com medo de serem atropeladas pelas carretas de minério lotadas, que desciam a BR em alta velocidade. “Estou morando em Campinas e trazer a família a Minas é passar vergonha nas estradas”, comparava o psicólogo, enquanto tentava agilizar a retirada do pneu reserva.

“A delegacia da PRF que cobre a área de João Monlevade a Cristiano Otoni enfrenta sérias dificuldades, que acabam interferindo na segurança. Radar desligado, rodovia sem contrato de manutenção e motoristas arriscando suas vidas. Operações tapa-buraco não adiantam mais”, acrescenta o superintendente.

Para não arriscar, tanto a vida quanto o bolso, o dono da lanchonete Boi na Brasa, no km 599, Bernardo Vidal Quintão, de 40, prefere ir às cidades depois de Conselheiro Lafaiete e pagar mais caro para abastecer o estoque, do que vir à capital. “Abri em março e já perdi a conta do número de carros quebrados na minha porta. Do trevo do Alphaville até aqui a BR está muito maltratada”, lamenta. O asfalto diante do negócio está repleto de rachaduras, buracos, ondulações e remendos.

Em dia de folga, superintendente-geral da PRF em Minas Gerais, Valtair Vasconcelos (c),
O chefe do posto da PRF em Congonhas, Raul Rachid Maluf, concorda com o superintendente quando o assunto são as operações tapa-buraco. “Até piora a situação, porque o motorista acha que a rodovia está boa e não é assim”, justifica. Ele também critica o estado de conservação da 040. “É caótico, um absurdo, faltam balanças e as carretas andam acima do peso. No entanto, é importante lembrar que 90% dos acidentes ocorrem por causa da imprudência dos motoristas. Se a rodovia não oferece boas condições, não é possível querer rodar a 100 km/h”, pondera.

Em apenas 30 minutos, um radar fotográfico no km 636 da rodovia multou 59 motoristas por excesso de velocidade, em um trecho urbano, bem sinalizado, pouco antes de uma ponte.

O Estado de Minas tentou entrar em contato com a assessoria de imprensa do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transporte (Dnit), mas não obteve retorno.
05 mai 2008 - Estado de MinasVoltar