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Mais fortes. Chefe da divisão Médico-Psicológica do Detran diz que só clínicas estruturadas irão sobreviver

FOTO: Leo fontes
Mais fortes. Chefe da divisão Médico-Psicológica do Detran diz que só clínicas estruturadas irão sobreviver
Superlotação. Número de clínicas de exame médico na capital passou de oito, em 2007, para 82 atualmene
Oferta cresce 1.000% em BH
Proprietários que saíram na frente no mercado passam dificuldades hoje
Flávia Martins y Miguel
As filas intermináveis nas clínicas de exames médico e psicotécnico ficaram no passado. Até junho de 2007, os candidatos eram reféns do baixo número de clínicas - apenas oito em Belo Horizonte e 96 em todo o Estado. Agora, podem contar com 82 locais aptos para o atendimento na capital e outros 400 em Minas, um crescimento de 925% e 316% respectivamente. O estouro na oferta inverteu o quadro que caracterizava um serviço moroso, ineficiente para os usuários que buscavam resolver rapidamente a burocracia necessária para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Atualmente, o atendimento é rápido. A arquiteta Marina Gonçalves Trindade, 23, viu a mudança na prática. Ela saiu satisfeita de uma clínica na região central da capital, sem ter que enfrentar nenhum minuto de espera. "Saí de casa com o papel que tirei pela Internet com o nome da clínica e gastei mais tempo no deslocamento do que para fazer os exames.

Se não fosse assim, eu chegaria atrasada no meu trabalho", afirmou a candidata a motorista. Por outro lado, médicos e psicólogos que buscaram no passado um filão desse mercado amargam hoje perdas em um investimento que não dá mais o retorno esperado. Proprietária de uma clínica e representante da Associação de Clínicas de Avaliação Pericial de Trânsito de Belo Horizonte, Ana Cristina Tavares conta que, atualmente, a média de atendimentos não passa de oito por dia. O prejuízo obrigou a perita a cortar radicalmente o número de funcionários da empresa. "Saímos de 70 atendimentos por dia para cinco, quatro candidatos diários. Em dia de pico atendemos, no máximo, dez pessoas. Eu cheguei a ter 22 funcionários trabalhando aqui e hoje tenho uma médica e uma psicóloga. Quem abriu recentemente está desesperado porque não está tendo retorno."

Critérios. A Sociedade Brasileira de Psicólogos em Prol da Segurança de Trânsito (SBPTran) luta na Justiça para que o sistema de abertura de novas clínicas seja por meio de licitação. O objetivo, de acordo com o advogado da instituição, Felipe Alves Pacheco, é definir critérios para que os empreendimentos tenham garantia de sobrevida na atividade. "Não somos contra o aumento de clínicas que prestam atendimento ao Detran. Só que é preciso definir a necessidade de quantas clínicas, seja por número de habitantes, condutores ou eleitores dos municípios. Assim, não irá acontecer o que é verificado hoje: clínicas fechando, pessoas perdendo o emprego", afirmou Pacheco. De acordo com o chefe da divisão Médico-Psicológica do Detran, Marcelo Figueiredo Almeida, a possibilidade de um retorno ao antigo modelo de licitação não existe. Para ele, o modelo pensado e discutido em três audiências públicas continua sendo o melhor para o atendimento à população.

"Não existe limitação para o estabelecimento de clínicas. O mercado vai se auto regular. Então, a ideia do Detran é que as clínicas mais bem estruturadas, que tem o compromisso maior com o cidadão e com o serviço prestado, vão se estabelecer. As demais vão ter mais dificuldades", disse. Segundo informações do Detran, quatro clínicas entraram com pedido de descredenciamento desde a publicação do decreto, o que evidencia uma queda brusca na demanda por novas empresas de exame médico e psicotécnico. "O fluxo de pedidos diminuiu demais. Chegávamos a receber cerca de dez pedidos por dia. Hoje atendemos um, às vezes nenhum", contou Almeida.





Suspensa
Clínica “roubava” pacientes
A briga por uma fatia do bolo no atendimento aos candidatos a motorista chega a ultrapassar os limites da legalidade. Uma clínica localizada na avenida João Pinheiro, região Centro-Sul da capital, foi denunciada por atender candidatos que deveriam ser encaminhados a concorrentes. A forma de abordagem dos usuários ainda está sendo investigada pelo Departamento de Trânsito (Detran), assim como as penalidades a serem aplicadas. Em um primeiro momento, o órgão de trânsito suspendeu a distribuição equitativa e retirou o nome da clínica do rol de prestadoras do serviço. A distribuição, gerada por computador, encaminha os candidatos para as clínicas de forma igualitária, para que não haja prejuízo para nenhuma delas. “Está suspensa porque existe documentação que prova a irregularidade. Ela estava fazendo exame com boletins gerados para outra clínica. Eles vão ser chamados e vão fazer a defesa”, explicou o chefe da divisão Médico-Psicológica do Detran, Marcelo Figueiredo Almeida.

Embora não existam dados que revelem quantas clínicas já foram suspensas por irregularidades, o Ministério Público deverá receber uma lista com uma série de denúncias reunidas pela análise dos documentos fornecidos pelo Detran. Alguns documentos de credenciamento de clínicas geram suspeitas com erros grosseiros. Em um processo administrativo consta, entre outros motivos, o indeferimento do pedido de credenciamento de uma clínica por causa da inadequação do banheiro para portadores de deficiência física. A clínica havia apresentado o laudo nº 0709/08, do Instituto de Criminalística, junto ao pedido de credenciamento. Após o indeferimento do pedido por parte do Detran, a clínica apresentou novo pedido, anexando os documentos que supostamente regularizariam sua situação. Surpreendentemente, no anexo “sanitário para deficiente físico”, consta o laudo nº 0520/08 com uma foto mostrando ser de outra clínica. (FMM)
Publicado em: 19/04/2009
19 abr 2009 - O TEMPOVoltar