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Ônibus Solução é viajar de
Estudo mostra que se 1,9 milhão de pessoas usassem o transporte coletivo acabariam os congestionamentos em Belo Horizonte. Para isso, seria preciso investir no sistema
Fábio Fabrini
Fotos: Marcos Vieira/EM/D.A Press
Excesso de carros de passeio fecha o cruzamento das avenidas Raja Gabáglia e Barão Homem de Melo no horário de pico

Há solução para o trânsito de Belo Horizonte? A resposta está no sistema de ônibus e acaba de ser demonstrada em números. Pesquisa do consultor Frederico Rodrigues, doutorando em engenharia de transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostra que um incremento médio na quantidade de passageiros do transporte público acabaria com os congestionamentos nos corredores urbanos e traria vários benefícios para o meio ambiente e a qualidade de vida. Se a rede conseguir atrair quem se locomove de carro e aumentar em um terço a sua demanda, as filas de veículos encolheriam 53%, o que, na prática, significaria o fim do arranca-e-pára nos horários de pico. A matemática parte de uma premissa simples: apenas um coletivo é capaz de tirar das vias públicas 36 carros de passeio.

Diariamente, 1,5 milhão de pessoas usam os ônibus da cidade. Na ponta do lápis, mais 420 mil precisariam se transferir para o bom e velho coletivo. Os resultados iriam muito além da diminuição do caos nas ruas e avenidas. A espera nos sinais de trânsito despencaria 56%, a emissão de monóxido de carbono (CO) cairia 32% e o consumo de combustíveis seria 23% menor. De quebra, todos ganhariam tempo, pois a velocidade média nas vias dobraria (veja arte na página 20).

O cenário foi traçado com a ajuda de um software simulador, com base nos indicadores do cruzamento das avenidas Raja Gabáglia e Barão Homem de Melo, na entrada do Bairro Buritis, na Região Oeste, um dos mais saturados de BH. Segundo o pesquisador, a distribuição de espaço entre os meios de transporte verificada ali se aplica ao restante da capital. E não é nada democrática.

Entre 17h30 e 18h30, período de maior concentração, 7.104 veículos transportam 20 mil passageiros. Os carros são 97% e levam 48%. Os ônibus são só 3%, mas carregam mais da metade (52%). “A média é de 1,37 ocupante por automóvel, contra 50 por coletivo”, afirma o especialista, esclarecendo que, com a migração para o sistema público, será necessária uma frota muito menor para que o mesmo número de pessoas se locomova.

Sairiam de cena 306,5 mil carros de passeio, quase um terço do total registrado em BH, e entrariam 8,4 mil grandalhões para suprir a demanda. Apesar de maiores, proporcionalmente, eles ocupam bem menos lugar que os modelos pequenos. Enchendo-se apenas um, são eliminados 28 metros de fila numa avenida com três faixas. Os outros modos – motos e caminhões – foram desconsiderados no estudo, mas, conforme Frederico Rodrigues, não comprometem os resultados.

Durante a pesquisa, foram feitas diversas simulações. A que prevê um aumento de 28% na demanda do sistema de ônibus, quase um terço, é a mais adequada à realidade de BH. Acima desse percentual, a ociosidade do sistema viário seria tão grande que não justificaria a abertura de espaço. Abaixo, os ganhos nem sempre seriam satisfatórios. Com 12% a mais de passageiros, os congestionamentos e o gasto de combustíveis reduziriam 16%, mas a queda na emissão do monóxido de carbono seria de apenas 2%.

TÁBUA DE SALVAÇÃO Se há uma tábua de salvação para o trânsito, o grande desafio dos administradores públicos é fazer com que a população, especialmente as classes média e alta, se agarrem a ela. Mas os indicadores do transporte público da capital não animam o cidadão a deixar o carro na garagem, a começar pela baixa velocidade. Frederico Rodrigues explica que a lentidão é o fator que mais pesa contra os ônibus. O Programa de Estruturação Viária de Belo Horizonte (Viurbs), apresentado recentemente, constatou que em alguns horários eles andam a 6 km/h no hipercentro, ritmo semelhante ao de um pedestre. Outro problema é a superlotação, que supera o limite de sete pessoas em pé por metro quadrado em algumas linhas.

A prefeitura promete implantar vias exclusivas para ônibus em grandes avenidas da capital, o que poderá encurtar o tempo das viagens. Mas, por ora, só há dois projetos em andamento. Com a duplicação, a Avenida Antônio Carlos terá uma busway entre o Centro e o Bairro São Francisco, complementando o trecho até a Pampulha, já finalizado. Outra via, batizada de Rota Sul, será implantada nas avenidas João Pinheiro, Cristóvão Colombo e Nossa Senhora do Carmo. A obra será anunciada nos próximos dias.

Frederico Rodrigues pesquisou o tráfego nos principais corredores

EXPANSÃO A licitação do transporte público da capital, que vai definir as novas concessionárias do serviço, prevê expansão da frota em 7% e limites menores de ocupação, o que poderá diminuir o aperto dos passageiros. O procurador-geral do Município, Marco Antônio Rezende, diz que outros instrumentos poderão aumentar a adesão. “O edital foi feito para isso. O empresário receberá por passageiro transportado, o que o estimula a buscar o cliente”, diz, citando outras políticas.

Um dos critérios para vencer a concorrência é reduzir o preço das passagens. Num prazo de três anos, pretende-se instalar, nas paradas mais movimentadas, visores que informem o tempo restante para a chegada do veículo, o que contribui para que a espera pelo embarque não seja tão grande. A licitação traz outras promessas, como os fresquinhos – ônibus com ar-condicionado, de tarifa mais cara, que vão rodar nos bairros nobres, com o objetivo de concorrer com o automóvel. “É preciso melhorar todos os aspectos – qualidade, segurança e informação – para conquistar o cidadão, que poderá escolher o seu meio de locomoção. Uma minoria é que complica o trânsito de BH”, comenta Frederico Rodrigues.

Mas ele acrescenta que, com o aumento do salário mínimo e o crescimento econômico, o pobre saiu favorecido e, cada vez mais, adere ao meio de transporte particular. “Se essa tendência continuar, a cidade vai parar. Em vez de ocorrer o oposto, as pessoas estão abandonando o ônibus”, alerta.
12 mai 2008 - Estado de MinasVoltar