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Velocidade que mata
Teste com radar, acompanhado pelo Estado de Minas, comprova o abuso no Anel Rodoviário, via em que 20 pessoas já morreram este ano e 607 ficaram feridas
Landercy Hemerson


Renato Weil/EM
Policial rodoviário acompanha a medição na pista e o aparelho mostra a velocidade de um veículo: 107 quilômetros por hora, 27 acima do limite


O combate ao abuso de velocidade, segunda causa dos acidentes nas rodovias federais em Minas Gerais – a primeira é a desatenção –, é um desafio para os agentes de fiscalização que, pela legislação, têm que informar os motoristas sobre a medição, no mínimo 300 metros antes. Em um teste com radar, na Semana Nacional de Trânsito, que se encerra hoje, o Estado de Minas constatou, sem o alerta sobre o uso do equipamento, que, de 25 carros que passam por minuto no Anel Rodoviário, em Belo Horizonte, mais de cinco (22%) trafegam acima do limite de 80 quilômetros por hora.


Durante o teste, que durou quase uma hora, foram registradas marcas de até 136 quilômetros por hora. O radar, cedido por uma empresa, foi instalado num trecho de reta, no Bairro Betânia, na Região Oeste de BH, monitorado pelo major Antônio Carvalho, da Polícia Rodoviária Estadual (PRE), e pelo inspetor Aristides Júnior, da Polícia Rodoviária Federal (PRF). E era possível, aos motoristas, vê-lo, assim como os carros das duas corporações, quando estavam a 100 metros do local da medição.

Nos primeiros três minutos, quando o tráfego era de 30 veículos por minuto, 24 motoristas passaram pelo radar acima dos 80 quilômetros por hora, ou seja, mais de um a cada 10 segundos. Com 12 minutos de medição, o número de infratores chegou a 90. Com 40 minutos, a média já era de 25 carros a cada 60 segundos, e o equipamento tinha registrado 215 infrações. O teste foi encerrado com 50 minutos de medição e 288 motoristas foram flagrados em alta velocidade.

O resultado da imprudência é visível nas estatísticas: 20 pessoas morreram de janeiro a agosto em acidentes no Anel Rodoviário, cinco a mais que em igual período do ano passado, conforme números da PRE. Para o major Antônio Carvalho, comandante da 7ª Companhia, que responde pelo policiamento rodoviário da Região Metropolitana de Belo Horizonte, a reforma da pista incentiva o abuso.

“As obras de sinalização e recapeamento foram concluídas em janeiro. Neste contexto, além do crescimento da frota em circulação, que pulou de 90 mil veículos por dia para 100 mil, houve o aumento na velocidade real de tráfego, com acidentes mais graves, pois esta é a variável que amplia os danos nos veículos, tornando impotentes os equipamentos de segurança, como freios ABS, cintos de segurança, airbag, pára-choques, encosto de cabeça, sistema de absorção de impactos, entre outros componentes”, afirma Carvalho.

O inspetor Aristides Júnior chama a atenção para o mesmo fator nas estradas federais, como a BR-381, na qual 129 pessoas já morreram este ano, em 3.392 acidentes. “O trecho duplicado entre BH/São Paulo é o que registra mais abusos. No trecho BH/Monlevade, foi preciso reduzir o limite de 90 para 80 quilômetros por hora. Com isso, temos intensificado a fiscalização com radar em pontos críticos, nos quais motoristas passaram a abusar, depois das melhorias no asfalto”, disse Júnior.

O major Carvalho e o inspetor Júnior afirmam que, durante o teste no Anel, acompanhado pelo EM, os abusos seriam em maior número, se os carros das duas corporações não estivessem visíveis, próximos ao radar. “Com o aparelho escondido, sem o operador e os policiais por perto, os motoristas não reduziriam a velocidade”, diz o oficial. “Mesmo com um trecho de 100 metros, desde o ponto em que os condutores viram o radar, o policial e nossos carros, antes de passar pela medição, muitos pisaram nos freios, mas, mesmo asim, registramos velocidades altas”, afirma Júnior.

DOR E LAMENTO A fundamentação dos técnicos em transporte está longe de falar mais alto que a dor daqueles que perderam parentes na violência das estradas. O médico José Geraldo Fonseca e sua mulher buscam, em seus princípios religiosos, forças para compreender a morte da filha mais velha, a estudante Mariana Kutras Fonseca. O dia 26 de abril era especial para a estudante do 4º período de odontologia, que seguia pelo Anel Rodoviário em direção a um restaurante na Savassi. Mariana completava 23 anos e se encontraria com amigos para comemorar o aniversário. Mas um caminhão betoneira, em alta velocidade, saltou a mureta e bateu em quatro carros, que rodavam em sentido contrário, entre eles o Fiat Uno da estudante. Além dela, morreram a médica Juliana Silva Freitas e o motorista do caminhão.

José Fonseca estava em Eunápolis (BA), de onde a filha saiu para vir morar com parentes e estudar em Belo Horizonte. “Eu dizia a ela para trafegar sempre na faixa da direita. Mas foi lá que o caminhão desgovernado foi parar. Motorista, tire o pé do acelerador, pois do outro lado está vindo um filho ou filha de alguém. Esse é o apelo que faço”, desabafa o médico.
25 set 2007 - Estado de MinasVoltar